quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Ainda a pós-verdade

Tornou-se tradição a escolha da palavra do ano pelo dicionário britânico Oxford. Ano passado foi a surpreendente emoji, ano atrasado foi a óbvia selfie. O termo vencedor de 2016 foi pós-verdade, ou post-truth no original.
A saída do Reino Unido da União Europeia e a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos deram força ao post-truth, que, segundo os editores do dicionário, relaciona-se à “circunstâncias em que fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública do que apelos à emoção e à crença pessoal”.
Casper Grathwohl, presidente do dicionário Oxford, informa que “o emprego de pós-verdade cresceu para explicar as consequências das redes sociais como fonte de notícias, além da crescente desconfiança mundial nos fatos oferecidos pelo establishment”. Recentemente, o termo foi capa de The Economist, na reportagem “Arte das Mentiras: Política pós-verdade na era das mídias sociais”.
            Embora vivamos num mundo globalizado, não há dúvida quanto à forte influência da língua inglesa nessa escolha, que é mesmo realizada por um dicionário inglês. A pergunta que faço é se esta palavra do ano também serve para nós. Ou por aqui teríamos uma melhor, genuinamente tupiniquim?
            Minha primeira escolha como palavra do ano seria corrupção!
             Em homenagem a Sérgio Moro, a palavra poderia ser anti-corrupção.
            Forte concorrente: impeachment.
            Ou ainda: prisão.
            Ou seria lava-jato?
            É certo que Eduardo Cunha e Dilma esforçaram bastante para que pós-verdade fosse a vencedora também por aqui. O primeiro afirmou que enriqueceu vendendo carne enlatada aos africanos. A segunda cansou de repetir que nosso desastre econômico deveu-se a fatores internacionais. Os dois, de fato, vivem na era pós-verdade.
Porém, o nome dessas peripécias em língua brasileira é mentira mesmo! Não precisamos importar o post-truth para nomear falsidade, enganação, distorção, contraversão, malsinação, forçamento, adulteração, falácia, contrafação, artimanha, colusão, cambalacho, conciliábulo, falsídia, falseamento, mendacidade, perjúrio, fraude, barataria, embuste, embromação, comedela, garatusa, burla, perfídia, tartufice, jacobice, impostura, a lista de sinônimos ou correlatos para mentira é mesmo interminável.
            Que o eventualíssimo leitor desta crônica faça sua sugestão.



2 comentários:

  1. Muito boa a continuação do tema. Merece acaso um terceiro texto. Cecilia Meirelles tocou no assunto numa cronica memoravel: "O que se diz, o que se entende". Pois vejo no conceito do Oxford a ideia de que a verdade se apreende muita vez (especialmente nas midias sociais) com base nas "crenças pessoais e nas emoçoes". Ou seja, acredita-se no que se quer acreditar.

    ResponderExcluir