O artigo assinado por Pablo
Ordaz, para El País de hoje, traz a manchete: Igreja Católica proíbe fiéis de jogar as cinzas dos mortos ou
guardá-las em casa. E o subtítulo: Descumprimento da medida
pode impedir funeral do falecido.
A Igreja Católica recomenda
que os mortos sejam enterrados. Quando por vontade expressa do morto optar-se
pela cremação, fica proibida a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água,
ou conservá-las em casa pelos familiares. (A proibição entrou ontem em vigor!
Recentíssima, portanto, tal decisão.)
Informa a Igreja que a proibição destina-se
a evitar qualquer “mal-entendido panteísta, naturalista ou niilista”. “Os mortos não são de propriedade da família,
são filhos de Deus, fazem parte de Deus e esperam em um campo santo sua
ressurreição”.
Caso ocorra a dispersão das cinzas na
natureza, por razões contrárias à fé cristã, o funeral
oficiado pela Igreja será negado.
Segundo a Congregação para a Doutrina
da Fé, as cinzas devem ser mantidas “como regra geral, em um lugar sagrado, ou
seja, no cemitério, ou, se for o caso, em uma igreja ou em uma área
especialmente dedicada para tal fim por autoridade eclesiástica competente”.
Afirma o cardeal alemão Gerhard
Mueller: “Os mortos não são de propriedade da família, são filhos de Deus,
fazem parte de Deus e esperam em um campo santo sua ressurreição”.
Estou perplexo diante desta nova
orientação da Igreja Católica. Além de manter os fieis subjugados à fé
principalmente pelo ato da confissão (você está perdoado, pode voltar a pecar,
desde que aqui compareça para nova confissão, novo perdão e novos pecados),
agora pretende também tornar-se proprietária dos mortos, os enterrados e os
cremados.
Afinal, a quem pertencem as cinzas de
um homem morto?
No livro do Gênesis (3,19), depois que Adão e Eva comeram o fruto
da árvore proibida, Deus diz a Adão: “Com o suor de teu rosto comerás teu
pão até que retornes ao solo, pois dele foste tirado. Pois tu és pó e ao pó
tornarás.”
Mesmo na condição de ateu, como reza o Velho
Testamento, penso que as cinzas de um homem morto pertencem à Natureza. Algum
familiar, em vida próximo do morto, dará o destino que lhe aprouver (o finado
jamais terá qualquer controle sobre isso), de preferência obedecendo às
possíveis orientações do falecido.
Há uma belíssima mata junto ao jardim
de minha casa, com árvores altas e frondosas, com ipês que florescem a cada
ano. Meu desejo é que minhas cinzas sejam espalhadas neste chão, e quando os
ipês florirem, lá estarei eu, entre as flores, beijando o céu. Haverá lugar
mais sagrado?
Completo disparate essa decisão da Igreja, a meu ver. Aliás , parece que a Igreja tem uma atávica inclinação a cercear a liberdade dos seus adeptos. Parece que a liberdade ameaça!
ResponderExcluirMas é claro que ameaça!
ExcluirInspirado, como sempre, meu caro André! Abraço fraterno!
ResponderExcluirQue honra você por aqui, querido Roque! Grande e saudoso abraço.
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