Há pouco mais de uma semana (23/10/2016), Angela Alonso, professora do departamento de
sociologia da USP e presidente do Cebrap, utilizou-se da figura da primeira
dama, a quem atacou de forma agressiva, penso eu, para defender uma posição francamente
feminista. Este blog tratou do assunto
no dia seguinte.(http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2016/10/o-direito-de-cada-uma.html)
Eis um trecho que resume a posição de Angela Alonso:
“A
primeira-dama reza por breviário mais simples e bem conhecido. Trafega em zona
ultrassegura, nada precisa prover ou provar. Tem as contas pagas, as falas
prontas, a vida decidida. Nem o nome do filho careceu escolher: no menino se
reproduziu o senhor seu pai.
Marcela
não se exprime, comparece. No papel de compor a paisagem, talvez visasse o
estilo Jackie Kennedy, da simplicidade elegante. Mas acabou em campo retrô,
meio Barbie, meio Rapunzel, entre dois mundos, o da boneca, boa moradia para
ex-miss dedicada ao consumo, e o reino do faz de conta, onde se encastela qual
a mocinha do cabelão.”
Confesso
que esperava reação proporcional na mídia, particularmente no jornal quer
publicou a matéria (Folha de S. Paulo). Este blogueiro suscitou a seguinte
questão: é preciso atacar a pessoa de Marcela Temer, para defender o direito
das mulheres, que elas deixem de viver à sombra dos maridos, que se tornem
independentes, que possam educar-se cada vez mais, que sejam donas do próprio
nariz, enfim, o que toda pessoa minimamente esclarecida pensa nos dias de hoje?
A virulência da senhora Angela resulta exatamente naquilo que ela condena, o direito da mulher ser o que ela quiser.
Marcela tem esse direito. Todos temos.
Afirma
Mariliz:
“É com
espanto que toda hora me deparo com textão de lição de moral que se propõe a
exaltar a emancipação da mulher, condenando o tipo bela-recatada-do-lar. No
fundo, é só arrogância para defender o que as autoras resolveram eleger como
legítimos símbolos da mulher moderna.
... Mas
não venham legislar sobre a forma como devemos viver, usando o cínico verniz da
defesa de um bem maior.”
Mariliz
desenvolve seu artigo de forma equilibrada, não cita nominalmente a autora do
texto original, defende a ideia de que cada mulher tem o direito de buscar seu
próprio caminho. Entretanto, ao final da crônica, parece que ao introduzir o
aspecto político-partidário na questão maior, ela incorre no mesmo erro que a
professora uspiana. Parte para o ataque pessoal:
“Espanta
nessa ode à defesa dos direitos conquistados que a mesma mão que bate em
Marcela não bate em Marisa, tal qual primeira-dama decorativa, mergulhada até o
nariz numa mistura mal-ajambrada de botox e preenchimento facial, mulher de
político, que vive numa gaiola dourada e, tal qual Marcela, somente isso.”
E Mariliz
conclui de forma enfática, agora sim, dizendo o que precisa ser dito ... e
praticado:
“Marcela
não me representa. Angela não me representa. Maria não me representa. Joana não
me representa. Eu me represento. Já é bem difícil, nenhuma mulher adulta
precisa de outra dizendo o que é certo ou errado.”
Afirma
Angela Alonso: “O sonho de toda menina devia ser se tornar o que quiser.”
(Desde que não seja bela-recatada-do-lar..., digo eu...)
Confirma
Mariliz Pereira Jorge: “... nenhuma mulher adulta precisa de outra dizendo o
que é certo ou errado.” (Desde que não faça uso de botox..., digo eu.)
E assim
as feministas vão se digladiando, defendendo direitos individuais, desde que
coincidam com seus próprios pontos de vista. Esta não é uma tendência exclusiva
das mulheres. Também os homem defendem ferrenhamente o que pensam ser a
verdade, esquecendo-se de que a verdade é aquela de cada um.
O defeito é da humanidade, ainda muito
atrasada nas questões emocionais.