Pensei que fosse só comigo! Que nada, o reputado romancista, cronista,
articulista da Folha, J.P.Cuenca, registrou hoje (8/3/2016), quatro dias após
os acontecimentos, corajosamente:
“Na
sexta-feira passada, durante um almoço com dois amigos, conversávamos sobre o
terremoto político e os desdobramentos daquela manhã quando me surpreendi
falando baixo, preocupado com quem estava na mesa ao lado. Tempos estranhos
estes quando os lacerdas pululam e qualquer mesa ganha ares de conspiração.”
Também
eu, naquela mesma sexta-feira, preparava-me para saborear a ótima comida de um
botequim famoso de Brasília, quando, empolgado com os últimos acontecimentos –
tantos! – sussurrei para a Bela:
– Melhor
a gente falar mais baixo! Não se sabe para quem torce esse pessoal da mesa ao
lado.
De fato,
tempos estranhos esses. De repente, o país tem apenas dois partidos, dois
lados, duas torcidas, duas religiões. Que não se misturam, que não conversam, que
não se toleram, que se agridem, que estão certos de serem os donos da verdade.
Belo
exemplo de pensamento religioso: Eu
estou com a verdade, você não. Esta a origem do fundamentalismo religioso,
que tem perdurado por milênios, cujo Estado Islâmico constitui o mais
estridente exemplo da atualidade. O que se convencionou chamar de pensamento
religioso não diz respeito apenas às religiões; ao contrário, aplica-se como
uma luva ao atual momento político do Brasil, em que as pessoas recusam-se a
pensar, apenas são contra ou a favor porque são, e pronto, está acabado!
Voltemos
ao botequim. Quem estaria sentado na mesa ao lado? A pergunta denota belo
exemplo de desconfiança: amigo ou inimigo? Melhor não arriscar.
O que não
percebemos é que tal atitude torna a vida muito mais difícil: atacar,
defender-se ou fugir? E, afinal, ninguém está com a verdade absoluta.
Melhor
conversar.
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