O que vai no coração de um homem-bomba?
Quem faz a pergunta somos todos nós,
porém José Eduardo Agualusa, em A mordida dos zumbis (O Globo, 28/03/2016), vai um
pouco além e faz outra pergunta que nos interessa: “Suponho
que o homem-bomba não se coloque a si próprio a questão complementar: “O que vai no coração dos inocentes?”
É possível que o homem-bomba (ou a
mulher-bomba), ao menos no instante da explosão e nos dias que a antecedem, assuma
comportamento esquizofrênico, francamente psicótico, que o leva a ignorar por completo
a existência do outro. É possível que se nutra apenas de ódio, capaz de cegá-lo
por inteiro, e assim não reconhecer a existência de suas vítimas.
Agualusa o diz de forma elegante: “o
homem-bomba não é capaz de empatia.” E acrescenta um outro elemento pouco
comentado pela mídia:
“Em
meio ao imenso caos que reina na Síria, nas ruínas fumegantes das cidades,
florescem laboratórios mais ou menos clandestinos, mais ou menos improvisados,
que visam obter uma droga chamada captagon,
à base de cafeína e anfetaminas. O captagon
começou a ser produzido no início dos anos 1960 para tratar distúrbios
de sono e situações de depressão. Transformou-se, entretanto, na droga
preferida dos jihadistas e dos homens-bomba. O captagon diminui o medo, provoca uma sensação de euforia, e,
principalmente, parece ser capaz de desligar qualquer sentimento de empatia.”
Se este fato é verdadeiro, e é bem
possível que seja, estamos diante de uma outra situação, na qual o surto
psicótico pode der produzido ou agravado pelas drogas. O que há de facilitar o não-reconhecimento
do outro; falar em empatia nesse caso beira o preciosismo.
É o máximo de anti-humanidade.
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