A
manchete do editor do The Boston Globe,
logo após o resultado do Oscar, é bastante sugestiva:
“Vitória
de 'Spotlight' injeta ânimo no
jornalismo”.
A
reportagem de Guilherme Genestreti e Rodrigo Salem, para a Folha de S. Paulo (29/02/2016), descreve a reação do jornal americano que anuncia: "O
Oscar veio para casa", pois o filme é inspirado no trabalho dos repórteres
investigativos do jornal.
Os
jornalistas que participaram das reportagens sobre pedofilia na Igreja foram
efusivos. Matt Carroll, ao comparecer à cerimônia, exclamou: "Estamos
literalmente na última fileira... mas estamos aqui e orgulhosos". Marty
Baron, ex- editor-executivo do Globe,
escreveu longo artigo no Washington
Post, destacando as recompensas que uma estatueta traria ao
jornalismo como um todo. A produtora Blye Pagon Faust falou com a imprensa,
exaltando o "impacto global" que uma notícia bem apurada pode ter. Já
o diretor Tom McCarthy foi bem claro: "Fizemos esse filme para todos
jornalistas que fazem ou fizeram os poderosos assumirem suas
responsabilidades". Walter Robinson, da Redação do Boston Globe, disse que o filme
era "uma injeção de ânimo" para quem ainda permanece no jornal.
O Globe abriu bolsa de US$ 100 mil
para a formação de jornalistas investigativos.
O artigo
da Folha enaltece o mesmo fato: “Um dos pontos mais importantes na vitória de
Spotlight é a exaltação
do jornalismo investigativo feito com paciência – técnica oposta à rapidez
exigida pela internet.”
O que incomoda o Louco é que o tema principal, a pedofilia na Igreja, foi praticamente
ignorado, vencido pelo orgulho (até justo) de editores, jornalistas, produtores
de filmes, etc. Até mesmo na própria cerimônia do Oscar o tema recebeu mínima
atenção. O grande mérito coube ao jornalismo!
A força desses meios de comunicação, imprensa, cinema, é
incomparavelmente superior ao poder dos humilhados – as crianças submetidas ao
abuso sexual e seus familiares. E o poder da Igreja Católica, superior a todos
eles.
O que se espera, de fato, é que a pedofilia seja
duramente reprimida dentro da Igreja, e não apenas que o jornalismo
investigativo seja estimulado. Nada contra este último: foi graças a ele que os
fatos foram revelados em Boston; nada contra o filme Spotlight, que é realmente ótimo e merecedor do prêmio, em minha opinião. Porém, eles não constituem um fim em si
mesmos, mas um meio. O combate à pedofilia deveria ocupar o centro das atenções.
Não vejo reação proporcional do Vaticano diante da gravidade
dos fatos revelados em todo o mundo. Não cabe, portanto, à imprensa, contar
vantagem antes da hora.
Pensei a mesma coisa: o assunto, em si, da maior relevância, está posto de lado. É como se, ao olhar uma bela pintura, se exaltasse a moldura.
ResponderExcluirMuito boa observação!
ResponderExcluirOs atores do filme fizeram um apelo ao Papa Francisco para que olhe mais para a existência da violência sexual. Não foi isso? Aguardamos os desdobramentos com a esperança de que as palavras de alguém hoje tão respeitado dê mais luz sobre o problema.