O Holocausto, a mais terrível das
tragédias do século XX, parece ser um tema inesgotável, talvez pelo desejo de
compreender aquilo que nos parece incompreensível, o fenômeno do nazismo,
oriundo no seio da própria humanidade.
O cinema tem brilhado nesse mister e O Filho de Saul, dirigido pelo húngaro
László Nemes e protagonizado por Géza Röhrig não deixa por menos: concorre ao
Oscar de melhor filme estrangeiro de 2015.
Os
primeiros 10 ou 15 minutos do filme são de cortar a respiração do expectador.
Quando finalmente o protagonista sai do Inferno – o complexo subterrâneo onde
os judeus são encaminhados para os fornos crematórios de Auschwitz – e surge a
luz do dia, pode-se respirar com certo alívio.
Tudo por
causa de um artifício técnico surpreendente: uma câmera grudada na nuca do protagonista,
agilíssima, desloca-se enquanto ele corre de um lado para outro, tentando
sobreviver, como tantos outros judeus que fazem o mesmo serviço. Às vezes a
câmera muda de posição e focaliza a face do judeu, com a cor da cinza dos corpos
já cremados e aparentemente inexpressiva, talvez pelo estresse insuportável das
circunstâncias: além de sobreviver ele precisa enterrar um morto, porque é “o certo que se deve fazer”, nas
palavras de Saul. Pode-se supor uma culpa imensa em todos aqueles que faziam o tal
serviço, pois evidentemente não era o certo que se devia fazer.
Porque a
câmera está permanentemente grudada em Saul, a profundidade de campo torna-se limitadíssima,
pois só importa o que ele vive em cada momento. O segundo plano é mostrado
quase sempre fora de foco, o que haverá de gerar grande desconforto em alguns
expectadores, especialmente naqueles que desconhecem certos detalhes do que foi
a vida num campo de concentração como o de Auschwitz. Parece que o desejo do
diretor foi mesmo este, de indicar que é impossível construir uma visão total e
completa daquilo que foi um desses campos. Primo Levi (1919-1987), autor do monumental É isso um homem?, haveria de concordar.
Um filme
espetacular!
Gostei muito do texto e do filme. As palavras disseram o mais essencial sobre a película. O tema nunca será esgotado. Sofrimento tão imenso e insuportável jamais será ilustrado em sua totalidade.
ResponderExcluirQue bom que viu o filme, Ciça! Uma aula de História!
ExcluirEm pleno inferno, que é o certo?
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