sábado, 13 de fevereiro de 2016

O filho de Saul


O Holocausto, a mais terrível das tragédias do século XX, parece ser um tema inesgotável, talvez pelo desejo de compreender aquilo que nos parece incompreensível, o fenômeno do nazismo, oriundo no seio da própria humanidade.
O cinema tem brilhado nesse mister e O Filho de Saul, dirigido pelo húngaro László Nemes e protagonizado por Géza Röhrig não deixa por menos: concorre ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2015.
            Os primeiros 10 ou 15 minutos do filme são de cortar a respiração do expectador. Quando finalmente o protagonista sai do Inferno – o complexo subterrâneo onde os judeus são encaminhados para os fornos crematórios de Auschwitz – e surge a luz do dia, pode-se respirar com certo alívio.
            Tudo por causa de um artifício técnico surpreendente: uma câmera grudada na nuca do protagonista, agilíssima, desloca-se enquanto ele corre de um lado para outro, tentando sobreviver, como tantos outros judeus que fazem o mesmo serviço. Às vezes a câmera muda de posição e focaliza a face do judeu, com a cor da cinza dos corpos já cremados e aparentemente inexpressiva, talvez pelo estresse insuportável das circunstâncias: além de sobreviver ele precisa enterrar um morto, porque é “o certo que se deve fazer”, nas palavras de Saul. Pode-se supor uma culpa imensa em todos aqueles que faziam o tal serviço, pois evidentemente não era o certo que se devia fazer.
            Porque a câmera está permanentemente grudada em Saul, a profundidade de campo torna-se limitadíssima, pois só importa o que ele vive em cada momento. O segundo plano é mostrado quase sempre fora de foco, o que haverá de gerar grande desconforto em alguns expectadores, especialmente naqueles que desconhecem certos detalhes do que foi a vida num campo de concentração como o de Auschwitz. Parece que o desejo do diretor foi mesmo este, de indicar que é impossível construir uma visão total e completa daquilo que foi um desses campos. Primo Levi (1919-1987), autor do monumental É isso um homem?, haveria de concordar.
            Um filme espetacular!


3 comentários:

  1. Gostei muito do texto e do filme. As palavras disseram o mais essencial sobre a película. O tema nunca será esgotado. Sofrimento tão imenso e insuportável jamais será ilustrado em sua totalidade.

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