domingo, 20 de dezembro de 2015

A gratidão de Oliver Sacks

Ao meu amigo Leopoldo,
admirador Oliver Sacks



O livrinho tem menos de 60 páginas e traz 4 pequenos ensaios sobre a vida e a morte – o que vem a ser a mesma coisa.
Gratidão, de Oliver Sacks, acaba de ser lançado pela Companhia das Letras (novembro de 1015), em pequeno formato (18x13), capa dura (falta-lhe o cabeceado), sobrecapa colorida de azul, e tradução de Laura Teixeira Motta. Um primor!
Os ensaios recebem os sugestivos títulos de Mercúrio, My own life, Minha tabela periódica e Shabat.
Sacks, nascido em Londres em 1933, fala de temas difíceis como a velhice, doença, religião – nascido judeu, tornou-se ateu –, o sentido da vida, quando presta homenagem a Sigmund Freud, ao manifestar gratidão por ter conseguido as duas coisas mais importantes da vida, amar e trabalhar.
Fala de sua sexualidade com franqueza e naturalidade, ao relatar episódio marcante em sua juventude, exatamente aos 18 anos de idade:

“Foi quando meu pai, ao indagar sobre meus sentimentos sexuais, me impeliu a admitir que eu gostava de rapazes.
“É só uma sensação, nunca ‘fiz nada’, eu disse e acrescentei: ‘não conte para mamãe: ela não aceitaria”.
Ele contou, e na manhã seguinte ela desceu com uma expressão horrorizada e gritou para mim: “Você é uma abominação. Quisera que você nunca tivesse nascido.” [Sem dúvida ela estava pensando no versículo do Levítico que diz: “O homem que se deita com outro homem como se fosse uma mulher, ambos cometeram uma abominação, deverão morrer, e o seu sangue cairá sobre eles.”

            (Que horror!)
            Apaixonado pela Ciência, ele mesmo um homem de ciência, praticou a neurologia clínica por quase 50 anos. Destacou-se ainda como grande contador de histórias, coisa rara entre os cientistas.
            Ao descobrir a presença de um câncer agressivo, de difícil tratamento, Sacks reconhece uma reviravolta em sua vida, mas não perde o entusiasmo por viver. Parece que, ao contrário, passa a valorizar cada segundo como um bem precioso.
            Encerro essas notas com o texto que compõe a contracapa do livro, o autor já próximo da morte:

“Não consigo fingir que não estou com medo. Mas meu sentimento predominante é a gratidão. Amei e fui amado, recebi muito e dei algo em troca, li, viajei, pensei, escrevi. Tive meu intercurso com o mundo, o intercurso especial dos escritores e leitores.”

            Os leitores é que devemos ser gratos à existência de um homem tão especial como Oliver Sacks.

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