quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Coisas que já não existem mais

                                                 


             O ótimo blog do Instituto Moreira Salles acaba de publicar, na seção Correio IMS, interessantíssimo bilhete de Carlos Drummond de Andrade, dirigido a Décio de Almeida Prado, na época diretor do “Suplemento Literário” de O Estado de S. Paulo.
            Eis o bilhete:

Rio [de Janeiro], 3 de fevereiro de 1957

Prezado Decio de Almeida Prado,

Um abraço

Aí vai, para o suplemento do Estado, qualquer coisa parecida com um poema, longo e monótono de caso pensado. Se achar que o verbo copular, no sétimo terceto, fere o leitor comum, pode substituí-lo por enlaçar. Em livro a gente restabelece a palavra, como já tenho feito.

Cordialmente, todo o apreço afetuoso do seu

Carlos Drummond de Andrade

Rua Joaquim Nabuco, 81

            Já não existe mais tamanha delicadeza contida no gesto do poeta, que para não constranger o editor amigo, faculta-lhe alterar o poema, para não ferir “o leitor comum”.
            Já não existe mais tamanho cuidado com as palavras e com as possíveis consequências sobre o leitor.
            Já não existe mais tamanho cuidado com o leitor.
            Já não existe mais tamanho cuidado com um amigo.
            Um Carlos Drummond de Andrade vem a este mundo apenas uma vez.




            Para os que desejarem ouvir o poema Especulações em torno da palavra homem, que contém o pomo da discórdia:



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