Um ser extraordinário, esse homem conhecido
pelo nome genérico de pesquisador!
Quase sempre um obstinado, às vezes visionário, eventualmente idealista, sempre
inteligente, disciplinado, e acima de tudo, centrado, com todas as suas forças,
em seu objeto de estudo. Um animal superior, sem dúvida.
O russo Andrei
Poyarkov, do A.N. Severtsov Institute of Ecology and Evolution, é um
desses homens. Biólogo especialista em lobos, vem observando os cães de Moscou – aproximadamente 35
mil espalhados pelas ruas da cidade, ou seja, um cão para cada 300 pessoas – nos
últimos 30 anos. Entre esta grande população de cães de rua, uma pequena minoria, em torno de 500 indivíduos, tem
sido objeto de particular interesse, composta por animais que frequentam ou
habitam o metrô e aprenderam a usar os trens para se locomover. (Faço
aqui uma ressalva: infelizmente não tive acesso às publicações originais, de
modo que posso incorrer em erro, amparando-me em artigos difundidos pela
Internet. Fiquemos com a essência da notícia.)
A maioria desses animais apresenta características
físicas semelhantes: tamanho médio, pelo longo, cabeça em forma de cunha, olhos
amendoados, caudas longas e orelhas eretas. A disponibilidade de uma quantidade
suficiente de alimento tem mantido a população estável em mais ou menos 35 mil
animais. Muitos filhotes nascidos nas ruas não alcançam a idade adulta; os que
conseguem atingi-la, substituem os adultos que morrem regularmente. Cães com
mais de 10 anos são raros.
Poyarkov observou que os cães foram
perdendo a pelagem malhada, o costume de abanar o rabo e a afabilidade,
características que separam os cães dos lobos. Classificou os animais em 4
grandes grupos, de acordo com seu comportamento social e relacionamento com
humanos.
1 - Cães selvagens: hábitos noturnos, evitam humanos, vistos
como uma ameaça.
2 – Cães buscadores de comida: semisselvagens.
3 – Cães de guarda: veem determinados humanos como seus
líderes e os seguem.
4 – Cães pedintes: são os mais inteligentes, sociáveis, porém
não afetuosos ou próximos dos humanos.
Os cães pedintes não se incomodam com a
alta concentração de humanos em lugares públicos e chegam a dormir em áreas
muito movimentadas, inclusive nos bancos das estações e trens do metrô. Eles podem
viver em alcateias, não são necessariamente os mais fortes ou dominantes,
mas são os mais inteligentes,
dependentes dos líderes, reconhecidos como tal pelos outros membros do
grupo. Nos bandos de pedintes, os mais espertos são os cães alfa, não os
fisicamente mais fortes.
Os bandos utilizam-se de seus membros
menores e mais bonitinhos, pois estes têm mais sucesso quando pedem comida às
pessoas. Outra técnica para conseguir alimento é chegar por trás de uma pessoa
que está carregando algo comestível e latir, assustando-a e fazendo com que,
eventualmente, derrube o almoço ou a janta do dia.
Os cães aprenderam com os humanos a
atravessar a rua e até como obedecer ao semáforo; como eles não podem ver cores, talvez sigam outras
pistas, como as formas ou posições dos sinais.
Em lugares de grande movimento os cães
aprenderam que não precisam fazer muito esforço para conseguirem comida, já que
muitas pessoas dão alguma coisa ao passar por eles. São raros os cães com
aparência de desnutridos. Como não há necessidade de se competir por comida, o comportamento
tornou-se mais sociável.
Dentre os habitantes do metrô, acredita-se
que vinte deles aprenderam a usar o
sistema para se locomoverem. Podem ter desenvolvido habilidade em reconhecer o
tempo em que passam dentro do carro entre uma estação e outra; habilidade em
reconhecer os nomes das estações anunciadas pelas gravações; sentir o cheiro de
determinadas estações; ou uma combinação de todos estes fatores. Parecem
preferir vagões mais vazios, localizados na parte da frente ou de trás do trem.
Eugene Linden, um especialista em inteligência animal, acredita que o
comportamento dos cães apresenta “raciocínio flexível e pensamento consciente”.
E os humanos, como reagem ao fenômeno?
Parece que os cães são vistos ao mesmo tempo com afeto e como um problema.
Muitas pessoas os alimentam; outras constroem pequenos abrigos para o inverno.
Os cães passaram a ser considerados por muitos como um componente característico
da cidade de Moscou. Campanhas de castração tiveram pouco impacto em reduzir a
população canina.
Bem, este
blog não podia deixar de dar a notícia, com os cumprimentos ao senhor Andrei
Poyarkov, uma vida dedicada aos cães de rua de Moscou.
Em São Paulo poderia haver um Poyarkov que observasse os moradores de rua...
ResponderExcluir