terça-feira, 12 de agosto de 2014

Automutilação em crianças e adolescentes




O Sistema Nacional de Saúde britânico revela que a automutilação entre crianças e adolescentes cresceu mais de 70% nos últimos dois anos. Desde 2012, são mais de 2.700 pessoas com idades entre 10 e 14 anos, tratadas em hospitais depois de terem infringido algum tipo de ferimento a si mesmas. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento durante o mesmo período foi de 23%. (1)

Os pesquisadores aventam a hipótese de que o “mundo online” em que estas crianças e adolescentes vivem atualmente pode estar contribuindo para o cenário. A pressão entre adolescentes relacionada ao bullying, ao sexo, à escola e ao trabalho sempre existiu, mas, na esfera online, é algo relativamente novo e ainda desconhecido. A pressão das redes sociais sobre o comportamento dos jovens é permanente, diminuindo ou até mesmo abolindo a privacidade deles.
            
         Tanto quando pude me informar, o estudo em questão não faz referência ao porquê escolher a automutilação como forma de enfrentar as dificuldades impostas pelo mundo contemporâneo, em particular ao tal “mundo online”. Penso que a palavra chave para o problema é o enfrentamento da dor psíquica.

Em primeiro lugar surge a dificuldade, ou até mesmo a absoluta impossibilidade de reconhecer a dor psíquica. E se não pode ser reconhecida como tal, não se pode lidar com ela. O sujeito então a desloca para o corpo, transforma-a em dor física, para então poder lidar com ela. Dor física todos conhecemos, desde a mais tenra idade – talvez desde o momento do parto.

Podemos supor, por mais incrível que isso possa parecer, que quando a adolescente enterra a tesourinha na face interna da raiz da coxa, a dor que ela sente é menos intensa que a dor causada pela tormenta psíquica daquele momento. E ela sofre sozinha, apartada de familiares, amigos, colegas, porque ninguém pode socorrê-la diante da dor psíquica.

Terminado o procedimento de automutilação, surge momentâneo alívio. Podemos pensar então nas escolhas que as pessoas adultas fazem para aliviar a dor psíquica, além da automutilação. O álcool e as drogas ditas ilícitas são as escolhas mais frequentes. Há quem afirme categoricamente que a depressão também é uma escolha.

E ainda nem chegamos ao masoquismo...


6 comentários:

  1. Concordo com o comentário da Taty. Mas até a parte mais interessante, o texto é bastante esclarecedor.

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  2. Estar na frente do computador é também uma forma de solidão. Não abranda a dor psíquica, pois não? E reconhecê-la pressupõe falar ao outro e ouvir o outro. É isso?

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    1. É isso, Paulo. Desde que nascemos, há sempre um outro. Não há como dispensá-lo!

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