segunda-feira, 28 de julho de 2014

Gênio?



              Após ler O sorriso do lagarto, A casa dos budas ditosos, O conselheiro come, Miséria e grandeza do amor de Benedita, de João Ubaldo Ribeiro, além de acompanhar suas crônicas nos jornais de domingo, confesso que não havia me tornado fã do baiano de Itaparica. A contrário, desgostava mesmo dele.
            Logo após sua morte, li em algum lugar a manchete que o chamava de GÊNIO. Gênio?, pensei. Ou o articulista estava tomado pela emoção da perda recente, ou era amigo pessoal do baiano, ou sei lá o quê... ou eu estava completamente enganado quanto ao valor literário do homem. O mesmo artigo dizia que a obra prima do
João Ubaldo era o Sargento Getúlio, publicado em 1971, que eu não havia lido, embora o livro dormisse em minha biblioteca há mais de vinte anos. Resolvi lê-lo.
            Estou assombrado com o livro! É, de fato uma obra prima. (E o autor deste blog confessa aqui sua ignorância – ou se trata de arrogância? –, por não ter lido o livro vinte ou trinta anos atrás...)
            A trama é simples: Getúlio, um sargento, tem que fazer uma entrega. Tem que entregar uma coisa; aliás, “o coisa”. No trajeto, de Paulo Afonso a Aracaju, vão ocorrendo as peripécias. O final é quase previsível, nada demais. Então o que sobra?
A forma! Coisa de gênio.
            Há poucos diálogos, quase tudo é a narrativa feita por Getúlio, monólogo de humor finíssimo, às vezes de uma violência e crueldade extraordinárias. O monólogo vai se tornando cada vez mais interior, até desaguar num fluxo de consciência delirante.
            Nessas croniquetas que costumo apresentar aqui, gosto de transcrever pequenos trechos dos livros que comento, a título de ilustração. Desta vez não o faço, por uma razão bem simples: seria preciso transcrever o livro inteiro.
            Aos pouquíssimos leitores desse blog, se ainda não leram Sargento Getúlio, façam-no com urgência. Não se pode morrer sem ler este livro!

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