Quatro acontecimentos insólitos marcaram ontem a abertura da Copa do
Mundo. Surpresas acontecem, é claro, porém a natureza dessas últimas me faz
lembrar a Jangada de pedra, de José Saramago, quando depois de uma sucessão de
fatos extraordinários a Península Ibérica acabou por se destacar do continente
europeu e navegou mar a dentro.
Começamos com a ausência de abertura oficial da Copa. Nem o Presidente
da FIFA nem a Presidente da República declararam abertos os jogos. Ao
contrário, esconderam-se bem no fundo da plateia. Faltou apenas que viessem
disfarçados, para não serem reconhecidos. Ou aquelas pombinhas brancas eram os
disfarces? Não que a mudez deles tivesse incomodado; ao contrário, as falas
sim, teriam sido perda de tempo, ansiosos que estávamos todos para o começo do
jogo. Mas, de fato, os jogos não foram abertos, por medo das vaias. Gente
frouxa.
O segundo acontecimento, este mais infausto que o primeiro, foi que o
primeiro gol da Copa – algo sempre festejado por quem gosta de futebol e Copas
do Mundo – foi contra. Nosso lateral direito estava fora de posição, fazendo
não sei quê lá na frente; a bola cruzada para a área pelo croata passou por
três defensores nossos, que não conseguiram desviá-la; passou entre as pernas
de um adversário, que não fez o gol; e foi chocar-se no lateral esquerdo do
Brasil, que vinha correndo mais estabanado que uma vaca brava. Restou-lhe
esbugalhar os olhos, incrédulo pelo gol que havia marcado, contra. E entrou
para a história das Copas.
O absurdo do terceiro acontecimento reside no fato de que, pela
primeira vez na história do futebol, incluindo os jogos de várzea, há
unanimidade quanto à marcação de um pênalti: ele não existiu! As explicações
variam enormemente, vão desde a teoria conspiratória de que esta Copa está
comprada, até a teoria compensatória, que o juiz estava apenas se redimindo
de um pênalti não marcado contra o Brasil, na Copa anterior, em jogo contra a
Holanda, desclassificando o escrete. E não podemos nos esquecer daqueles que
acreditam piamente de que deus é brasileiro... Um deus ladrão, com certeza.
Na manhã seguinte, jornais do mundo todo estampam nas primeiras páginas
a gatunagem brasileira: o Brasil ganhou roubado. Precisávamos disso? A seleção
jogou melhor que a Croácia e mereceu vencer, mas não sabemos se venceria se o
pênalti não fosse marcado, e não saberemos jamais. Não é a primeira vez que
acontece gol roubado em Copas do Mundo; quem não se lembra da “mão de deus”
argentina? Porém, unanimidade num pênalti, é a primeira vez.
Por último, embora tivesse ocorrido em primeiro lugar, não houve
escolas de samba, com suas peladas mulatas colossais, desfilando na abertura da
Copa! Por isso mesmo, há quem diga que não houve abertura.
Ótima crônica. Faltou mencionar a figa da Dilma estampada no jornal. "Presidenta" fazendo figa é demais!
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