quinta-feira, 8 de maio de 2014

Coisas do futebol




     Ontem, durante a solenidade de convocação da Seleção Brasileira de Futebol para a Copa 2014, após anunciados os nomes dos 23 jogadores, teve início a coletiva de imprensa, com jornalistas do mundo inteiro. Lá pelas tantas, uma correspondente de esportes da França fez a seguinte pergunta ao técnico Felipão:
            – Os franceses desejam saber por que vocês brasileiros dão tanta importância a este momento de convocação da seleção?
            A resposta não importa, a pergunta é muito boa! (Os psicanalistas adoram repetir a frase: “O que estraga uma pergunta é a resposta...”)
            Para os estrangeiros, devem ser mesmo incompreensíveis certas atitudes nossas referentes ao futebol, em especial à seleção.
            Antes de mais nada, confesso meu amor pelo futebol desde os tempos de menino. Dos 8 aos 16 anos, jogava bola diariamente; aos domingos, de manhã e à tarde. E não jogava mal; se a técnica não era das melhores, o empenho e força de vontade compensavam. Assistir aos jogos do time local contra os grandes Palmeiras, Corinthians, São Paulo, levado pelo pai e em companhia do irmão, aqueles eram momentos mágicos e inesquecíveis de pura felicidade.
            Em 58, na Suécia, ouvi os jogos da copa pelo rádio, e começou ali a paixão pelo escrete. (Para quem não sabe, a palavra “escrete” vem do inglês scratch, que significa seleção. A forma inglesa era muito usada nos idos de 50, e de lá para cá nunca mais a ouvi...)
            Depois vieram as copas de 62, 66, a espetacular copa de 70, no México, e a seleção colecionando títulos. Não raro, encontramos quem saiba de cor a escalação das seleções de todas as copas! Da mesma forma que determinadas jogadas são relembradas com verdadeira devoção, especialmente os gols “não marcados” por Pelé.
            E como somos todos técnicos de futebol, temos as nossas preferências na hora de escalar o time. Daí, senhora repórter, a tremenda expectativa do momento da convocação! Isso para não falar dos milhares de profissionais, os comentaristas de futebol, espalhados por todo o país, e que ganham a vida convictos de que “futebol é coisa séria...”. O mais famoso deles foi Nelson Rodrigues, autor de frases e expressões memoráveis, como “a pátria em chuteiras”, referindo-se ao envolvimento nacional com o futebol.
            Desnecessário dizer que todos preferiríamos assistir à Copa num Brasil melhor do que este que temos hoje, mais educado e menos violento, para dizer o mínimo, mas enquanto isso não é possível, ficamos com a simples, mas verdadeira, resposta do Felipão à pergunta da tal repórter:
            – Ora, porque é a Seleção!
           

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