O livro Contra
o fanatismo, de Amós Oz (Ediouro, 2004), permanece mais atual do que nunca,
particularmente diante da explosão do Estado Islâmico no Oriente Médio. Embora
o autor dê ênfase maior ao problema Israel-Palestina, ele assinala que “O
fanatismo é mais antigo que o Islã, mais velho que o Cristianismo, que o
Judaísmo, que qualquer estado, governo ou sistema político, que qualquer
ideologia ou fé no mundo. O fanatismo é, infelizmente, um componente
onipresente da natureza humana, um gene do mal, se quiserem chama-lo dessa
forma.”
O vocábulo fanatismo tem duas
acepções no Houaiss: 1. zelo religioso obsessivo que pode levar a extremos de
intolerância; 2. (por extensão) faccionismo partidário; adesão cega a um
sistema ou doutrina; dedicação excessiva a alguém ou algo; paixão.
Termo que exprime, portanto,
sentimento perigoso, muito próximo da intolerância a qualquer posição diferente
ou discordante.
Esta pequena introdução tem como
objetivo chegar ao artigo de Rogério Cezar de Cerqueira Leite, 83, físico,
Professor Emérito da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro do
Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, publicado ontem (31/08/2014) na
Folha de São Paulo e intitulado Desvendando Marina.(1) Resumo o texto numa única frase do autor: “Não me sinto confortável em
ter como presidente uma pessoa que acredita concretamente que o Universo foi
criado em sete dias há apenas 4.000 anos, aproximadamente.”
Professar esta ou aquela religião,
até mesmo ser ateu, é direito inalienável de todo cidadão, num país livre como
o nosso. Isso não se discute. Agora, ignorar todo o conhecimento acumulado
(duramente) pela Ciência até hoje, que não é pequeno embora muito haja ainda para
ser desvendado, e abraçar cegamente uma doutrina que não mais se sustenta, como
o Criacionismo, isso é fanatismo. E isso é muito perigoso.
O Estado Islâmico vem aterrorizando
milhares de pessoas no Oriente porque adquiriu Poder, através do recrutamento
maciço de militantes, de ganhos financeiros vultosos, incluindo dinheiro
oriundo de resgates de estrangeiros sequestrados e de saques das cidades
conquistadas, e, acima de tudo, o poder obtido pela força da pregação religiosa
fundamentalista. Fanatismo e Poder, isso é muito perigoso.
Termino esta pequena crônica com uma
frase de Amós Oz: “Muito frequentemente, o fanático só consegue contar até um,
dois é um número muito grande para ele.” E isso é muito perigoso...
O fanático se recusa a pensar, a ponderar, a ter dúvida. E nada é mais humano que ter dúvida. Por isso o fanático é desumano.
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