Roteiro para um curta-metragem
Background:
Ângela,
23, sonhava em ser pintora. Desde pequena carregava uma pequena mochila, cheia
de cadernos de desenho, lápis de cor, craion, aquarela, carvão, e desenhava
tudo o que via pela frente. A família já não duvidava daquela vocação, embora o
pai, um português xucro, achasse aquilo tudo uma grande perda de tempo.
A
menina cresceu, entrou para a Faculdade de Artes. Era um grande sonho que se
realizava.
Primeira
tomada:
A família reunida para o café de manhã,
numa pequena casa de subúrbio, todos falando ao mesmo tempo, Ângela
excitadíssima, pois iria pela primeira vez à Pinacoteca do Estado de São Paulo,
realizar, como exercício exigido pela Faculdade, a cópia de algum quadro que
ela escolhesse. Havia obtido a permissão do museu, os apetrechos preparados de
véspera, tintas, pinceis, cavalete, tela, tudo bem arrumado, pois ela tomaria o
trem, depois o metrô até a estação da Luz, caminharia a pé um pouco mais, e lá
estaria ela, futura grande artista do Brasil.
Segunda
tomada (rápida):
Ângela, contemplativa, carregando toda
aquela tralha, dentro do trem, feliz da vida!
Terceira
tomada (rápida):
Ângela, com o mesmo semblante, sentada no
vagão do metrô.
Quarta
tomada:
Ângela chega à Pinacoteca, sobe a pequena
escada da frente e exibe, orgulhosa, a permissão para trabalhar, e entra.
Quinta
tomada:
Ângela entra na sala onde está o quadro
que será copiado como exercício de arte.
(Ao cinegrafista: cuidado para não
mostrar o quadro neste momento. Imagem fixa em Ângela.)
Ela desfaz a bagagem, posiciona o
cavalete, fixa a tela nele, abre as tintas necessárias, prepara paleta e
pinceis. Está pronta para iniciar o exercício. O olhar de Ângela agora
dirige-se para o quadro escolhido, pleno de embevecimento! É a primeira vez que
ela procura igualar-se a um artista de verdade e considera aquele momento mágico
o início de promissora carreira de artista plástica.
(A câmera então, muito lentamente, mas
muito lentamente mesmo, desloca-se do rosto de Ângela para o quadro, Sem título
(1985), de Mira Schendel, onde se fixa por intermináveis 45 segundos.)
Foto: A.Vianna, São Paulo, Pinacoteca do Estado, ago. 2014.
Hahahahahahahah! Óóóóótimo!!!
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