“Temos a
obrigação de ganhar a Copa!”
Estas foram palavras ditas por
Felipão e repetidas por Parreira incontáveis vezes, durante as mais variadas
entrevistas, ao longo da fase preparatória para esta Copa do Mundo. A primeira
vez que as ouvi, confesso que levei um susto.
Obrigação? Como assim? Custe o que custar? Mesmo que seja preciso pegar
em armas para defender a honra da Pátria Amada?
No cotidiano da vida vemos com frequência as pessoas utilizarem-se da
expressão “eu tenho que”, ou “ele tem que”, para expressar uma necessidade que
muitas vezes não passa de um desejo. Às vezes esta ordem – porque se trata de
uma ordem – surge sob a forma do conselho piedoso que começa com “você tem
que”. É o paciente terminal que padece de anorexia absoluta e ouve do cuidador
Você tem que comer para ficar bom. Ou a pessoa mergulhada no luto pela perda do
ente querido e que ouve do outro Você tem que esquecer e tocar a vida. Aquele
que foi deixado pelo parceiro – o gênero não importa – ouve do amigo Você tem
que encontrar um novo amor para esquecer. Tem que Tem que Tem que.
Talvez sejam as crianças as maiores vítimas do tem que.
– Hora do banho, menino!
– Ah! mãe, logo agora que estou brincando...
– Tem que ser agora, já!
– Mas por quê, mãe?
– Porque tem.
A mãe, amorosíssima, não consegue entender que brincar é coisa séria,
prevalece o tem que. Tem que comer tudo, tem que ir para a cama, tem que voltar
para casa, tem que vestir tal roupa, independentemente da vontade da criança,
que não recebe justificativa alguma para tais atitudes. Apenas o tem que. A
criança não tem alternativas, é obrigada a obedecer – ou o castigo virá! Onde isso vai parar na vida adulta, não
sabemos...
Aquele que diz tem que, quase sempre bem intencionado, não é capaz de
reconhecer as circunstâncias nas quais os fatos se desenrolam. Para ele também
não existe alternativa e ele não é capaz de pensar. O que há é apenas uma
ordem. (Possivelmente foi vítima do tem que na própria infância.)
Voltemos à Seleção Brasileira. Os que acompanharam a Copa puderam
observar que o time se desestabilizava toda vez que tomava um gol. No primeiro
jogo contra a Croácia, conseguiu recuperar-se ao final do primeiro tempo.
Contra o Chile, vinha jogando bem, ganhando por um gol, até que levou um, e daí
em diante o jogo foi um desastre, salvo pelo travessão no último minuto. Na
semifinal, o time levou o primeiro e assustou-se. Ao levar o segundo, entrou em
pânico. O resto todo mundo já sabe.
A mente (infantil?) que recebeu a ordem – tem que ganhar – como fica
diante da iminente derrota? Fazer o quê? Uma solução possível é fazer NADA. Daí
a paralisia gerada pelo pânico.
Há outros fatores envolvidos, é evidente. A qualidade técnica, a
preparação, o esquema tático completamente ultrapassado, para citar alguns. Estas
são as tais circunstâncias que poderiam ser levadas em conta, se não houvesse
uma ordem, associada à incapacidade de pensar.
O tão falado despreparo emocional, manifesto pela choradeira exagerada,
pode ter como origem o tem que vencer. Bem, o outro time que é muito bom, nunca
afirmou que tinha que ganhar, aproveitou-se, enfiou sete. Podia ter sido
pior...
Uma boa análise. Talvez se possa acrescentar o contraste entre a decantada "frieza" dos alemães "calculistas" e a "emocionalidade" quase histérica dos brasileiros. Na hora de enfrentar a adversidade, nâo tem choro nem vela, é preciso ter cabeça fria. Mas parece que confiamos mais nos santinhos, amuletos, rosários e promessas que numa boa e bem pensada tática de jogo.
ResponderExcluirDr, excelentes as suas observações, com as quais concordo plenamente. Lembro-me que muitas das entrevistas citadas em seu texto ocorreram antes da Copa das Confederações e eles diziam que a obrigação era vencer a Copa do Mundo e não a das Confederações. Sem o "tem que", o time deu show; com ele, vexame.
ResponderExcluirMuito boa análise!!!
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