segunda-feira, 14 de julho de 2014

Monterroso e suas fábulas




O texto mais famoso de Augusto Monterroso contem apenas 37 letras e parece que foi a partir dele que surgiu a onda dos chamados microcontos, tão em voga hoje em dia e tão apreciados pelo Loucoporcachorros. Ele abre o livrinho (o formato é pequeno, porém a antologia é de enorme interesse) organizado por Marcelino Freire, Os cem menores contos brasileiros do século (Ateliê Editorial, 2004):

“Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá.”

            Freire inspirou-se nesta obra prima do microconto para elaborar sua antologia de autores brasileiros, mas Monterroso, ele mesmo nasceu em Honduras em 1921, mudou-se ainda jovem para a Guatemala, e aos 23 anos fixou-se definitivamente na Cidade do México, como exilado político, onde faleceu em 2003.
Seu primeiro livro foi publicado em 1959, com o curioso título Obras completas (y otros cuentos), denunciando desde cedo o estilo satírico do autor.
            Sua obra é pouquíssimo divulgada no Brasil. Eis que agora surge entre nós A ovelha negra e outras fábulas, originalmente publicado em 1969. E surge, por ironia do destino, muito mais pelo tradutor, Millôr Fernandes, o homenageado da Flip deste ano, do que pelo próprio Monterroso, creio eu. A edição da Cosac Naify é muito bem cuidada, embora merecesse receber uma capa dura.
            Transcrevo, para despertar o interesse de futuros leitores, a fábula que dá título ao livro, A ovelha negra.

“Em um país distante existiu faz muitos anos uma Ovelha negra.
Foi fuzilada.
Um século depois, sucessivamente, cada vez que apareciam ovelhas negras eram rapidamente passadas pelas armas para que as futuras gerações de ovelhas comuns e vulgares pudessem se exercitar também na escultura.”

Um comentário:

  1. Interessante como o certeiro sarcasmo faz pensar, às vezes mais que longo palavreado.

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