O texto mais famoso de
Augusto Monterroso contem apenas 37 letras e parece que foi a partir dele que
surgiu a onda dos chamados microcontos, tão em voga hoje em dia e tão
apreciados pelo Loucoporcachorros. Ele abre o livrinho (o formato é pequeno,
porém a antologia é de enorme interesse) organizado por Marcelino Freire, Os
cem menores contos brasileiros do século (Ateliê Editorial, 2004):
“Quando acordou, o dinossauro ainda
estava lá.”
Freire inspirou-se nesta obra prima do microconto para
elaborar sua antologia de autores brasileiros, mas Monterroso, ele mesmo nasceu
em Honduras em 1921, mudou-se ainda jovem para a Guatemala, e aos 23 anos
fixou-se definitivamente na Cidade do México, como exilado político, onde faleceu
em 2003.
Seu
primeiro livro foi publicado em 1959, com o curioso título Obras completas
(y otros cuentos), denunciando desde cedo o estilo satírico do autor.
Sua obra é pouquíssimo divulgada no
Brasil. Eis que agora surge entre nós A ovelha negra e outras fábulas, originalmente
publicado em 1969. E surge, por ironia do destino, muito mais pelo tradutor,
Millôr Fernandes, o homenageado da Flip deste ano, do que pelo próprio
Monterroso, creio eu. A edição da Cosac Naify é muito bem cuidada, embora
merecesse receber uma capa dura.
Transcrevo, para despertar o
interesse de futuros leitores, a fábula que dá título ao livro, A ovelha negra.
“Em um país distante existiu faz muitos anos uma
Ovelha negra.
Foi fuzilada.
Um século depois, sucessivamente, cada vez que
apareciam ovelhas negras eram rapidamente passadas pelas armas para que as
futuras gerações de ovelhas comuns e vulgares pudessem se exercitar também na
escultura.”
Interessante como o certeiro sarcasmo faz pensar, às vezes mais que longo palavreado.
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