O professor de Filologia Românica acorda cedo e inicia a preparação
para receber, em poucas horas, o merecido prêmio acadêmico, aos 71 anos de
idade; enquanto isso, passa a limpo toda sua vida.
A forma inteligente e criativa encontrada pelo autor, Cristovão Tezza,
para o desenvolvimento da narrativa – uma vida inteira em poucas horas –
permite ainda que fatos contemporâneos sejam acrescidos, como por exemplo, a
renúncia do Papa, que tanto intriga o protagonista.
A maledicência da vida acadêmica não
poderia faltar. Duas mulheres marcam definitivamente a história de Heliseu, este
o nome do professor. O filho incompatível completa o drama familiar.
O que chama mesmo a atenção do
leitor é a escrita elegante de Tezza, coisa rara nos dias de hoje, na
literatura brasileira. Assim tem início o romance:
“Acordou de um sono difícil: sobre
algo que parecia um leito, estava abraçado ao inimigo, que tentava aproximar os
lábios aos seus. Não quis ser ríspido, entretanto, empurrá-lo para longe, como
seria o óbvio, talvez agredi-lo com um soco; apenas desviou o rosto, dizendo
algo que agora não conseguia mais ouvir, na claridade da manhã. Mas eram
movimentos gentis, ele percebeu, tentava afastar-se dele com delicadeza, como
quem desembarca de uma cama em que a mulher dorme e não deve ser acordada.”
Vale a pena conferir: O professor, Cristovão
Tezza, Editora Record, 2014.
Teremos que ler, teremos que ler... Nem que seja da meia noite às duas...
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