terça-feira, 6 de maio de 2014

O professor



O professor de Filologia Românica acorda cedo e inicia a preparação para receber, em poucas horas, o merecido prêmio acadêmico, aos 71 anos de idade; enquanto isso, passa a limpo toda sua vida.
A forma inteligente e criativa encontrada pelo autor, Cristovão Tezza, para o desenvolvimento da narrativa – uma vida inteira em poucas horas – permite ainda que fatos contemporâneos sejam acrescidos, como por exemplo, a renúncia do Papa, que tanto intriga o protagonista.
            A maledicência da vida acadêmica não poderia faltar. Duas mulheres marcam definitivamente a história de Heliseu, este o nome do professor. O filho incompatível completa o drama familiar.
            O que chama mesmo a atenção do leitor é a escrita elegante de Tezza, coisa rara nos dias de hoje, na literatura brasileira. Assim tem início o romance:

“Acordou de um sono difícil: sobre algo que parecia um leito, estava abraçado ao inimigo, que tentava aproximar os lábios aos seus. Não quis ser ríspido, entretanto, empurrá-lo para longe, como seria o óbvio, talvez agredi-lo com um soco; apenas desviou o rosto, dizendo algo que agora não conseguia mais ouvir, na claridade da manhã. Mas eram movimentos gentis, ele percebeu, tentava afastar-se dele com delicadeza, como quem desembarca de uma cama em que a mulher dorme e não deve ser acordada.”

            Vale a pena conferir: O professor, Cristovão Tezza, Editora Record, 2014.

Um comentário:

  1. Teremos que ler, teremos que ler... Nem que seja da meia noite às duas...

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