quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ut pictura poesis


Horácio, em ilustração de Anton von Werner

Escrevi recentemente neste Louco por cachorros, em Narrativas poéticas II (1), em 31 de março último, a propósito de minha visita à bela exposição no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, que “Ouvi de Adélia Prado, em sua última participação no Roda Viva, que a arte que mais se aproxima da poesia é a pintura! (Ainda mais que a música.) Acho que ela tem razão.”
Alertou-me meu cultíssimo amigo Aldo P. Neto que a ideia de associar pintura e poesia como artes afins, para dizer pouco, vem de longa data, mais precisamente de Quinto Horácio Flaco, ou simplesmente Horácio (65 a.C. – 8 a.C.), registrada em sua obra Ars Poetica.
Sobre o assunto, encontrei interessante trecho no E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia (2), que define a expressão latina Ut Pictura Poesis (3):

“Expressão usada por Horácio na sua Arte Poética (c. 20 a. C.), que significa “como a pintura, é a poesia” e que, apesar de não possuir um significado estrutural, veio a ser interpretada como um princípio de similaridade entre a pintura e poesia. A afinidade entre as duas artes já fora mencionada por Plutarco, o qual atribuiu ao poeta Simónides de Céos o dito segundo o qual “a pintura é poesia calada e a poesia, pintura que fala” (De gloria Atheniensium, 346 F). Na mesma obra (17 F - 18 a), Plutarco esclarece ainda que tal comparação se baseia no facto de pintura e poesia serem, supostamente, imitações da natureza, princípio este que se revelaria fulcral nas reformulações sofridas pela analogia entre ambas as artes ao longo da Antiguidade clássica.”

            O tema não é isento de controvérsia, e eis a opinião de um ilustre português, encontrada na mesma fonte acima:

“Almeida Garrett, na fase inicial da sua carreira, também se pronunciou sobre a “sentença” de Horácio e rejeitou a equivalência entre as duas artes, porque, na Antiguidade, a pintura estava “atrasada” em relação à poesia. É que os Gregos não tinham então Homeros em pintura. A argumentação de Garrett já irá privilegiar a pintura, porque é a arte que melhor se adequa à imitação da natureza: “A poesia animada da pintura exprime a natureza toda; a dos versos, porém, menos viva e exacta, falha em muita parte na expressão de suas belezas. Que poeta poderia dar uma ideia de Rómulo como David no seu quadro das Sabinas? “Que versos nos poderiam fazer imaginar a Divindade como a Transfiguração de Rafael? Que poema nos faria conceber a majestade dum Deus criador dando forma ao caos, e ser ao universo, como a pintura de Miguel Ângelo?” (Ensaio sobre a História da Pintura, Obras Completas, vol. 1, Lisboa, 1904, p. 27 a-b).”
           
Estou certo de que a própria Adélia Prado, formada em Filosofia, conhece de sobra o assunto. Mas é sempre interessante citar a fonte, quando exprimimos ideias que não são originalmente nossas.




2 comentários:

  1. Louco por cachorros e erudito! Vale a pena seguir este blog!

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    1. Aprendo com meus amigos. Além do que, a Internet foi feita para os velhos aposentados...

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