O artigo “Novo Enem faz colégio modificar currículo e
contratar consultoria”, publicado no O Estado de São Paulo em 21 de agosto
último, de autoria de Fábio Mazzitelli e Laís Cattassini, parece ter passado
despercebido, embora se trate de notícia com graves repercussões para o ensino
no Brasil. (1)
Os
articulistas apontam que “O novo formato do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), que será aplicado a partir deste ano, e o
desempenho na prova de 2008 levaram escolas particulares de São Paulo a mudar a
proposta pedagógica e até a contratar consultoria para tentar ampliar o número
de alunos com notas altas na avaliação.”
O artigo destaca
ainda que numa “escola tradicional da capital, com mensalidade em torno de R$
1.500,00 o resultado ruim do Enem no ano passado – unidades em 130º e 134º lugares – gerou
mudanças. Para nortear a reestruturação, foi contratada uma consultoria – a direção
do colégio não revelou o nome da empresa. Houve uma cobrança maior. Alguns pais
ficaram inseguros. Agora, temos diagnósticos a curto, médio e longo prazo,
afirma a coordenadora do centro pedagógico.”
A posição
do MEC também é registrada pelo jornal: “Ao lançar a nova proposta do Enem, o
MEC afirmou que uma das metas era levar escolas a rever o currículo do ensino
médio. "É bom repensar o currículo para inseri-lo no mundo moderno. Mas,
se essa mudança for só para o Enem, é precipitado", diz Maria Inês Fini,
que participou da equipe que criou o exame no fim de 1990.”
Conhecemos
de longa data os chamados “cursinhos” preparatórios para os vestibulares: os
melhores eram aqueles que obtinham maior número de aprovações (e maior número
de alunos no ano seguinte). Para tanto, o ensino que ofereciam era o mais
específico possível, direcionado apenas às possíveis questões das provas, sem
qualquer outro critério quanto ao mérito do conteúdo.
Pois
agora são os melhores colégios a guiarem-se pelo mesmo viés comercial: os
alunos precisam obter bons resultados no Enem, o que elevará a classificação da
escola no ranking nacional. Com isso,
pais mais satisfeitos, mensalidades em dia...
Então,
agora é o Enem que dita as diretrizes do ensino médio para o país? Parece que
sim. O Brasil não tem mais um programa elaborado por educadores de comprovado
saber, coordenados pelo MEC, imunes aos ventos políticos que porventura assolem
o país. O MEC abriu mão de sua prerrogativa de Educar em detrimento dos
fazedores de provas do Enem. Se muda a comissão que elabora as provas, as
escolas devem mudar seus currículos a fim de se manterem bem colocadas.
Trata-se
portanto de estratégia absurda, que jamais poderá substituir um projeto
educacional sério, abrangente, com repercussões a longo prazo, possibilitando
as transformações sociais que todos almejamos. E sem Educação, não há futuro
para o Brasil.
Análise pertinente. É a educação a reboque dos interesses comerciais. Puro imediatismo. Dá o que pensar.
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