segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O que é Arte e o que não é.


Depois de atravessar com genuíno interesse as mais de 400 páginas do livro de Will Gompertz, considero-me um pouco mais seguro para estabelecer certo tipo de julgamento, completamente amador e irresponsável, sobre alguma obra da chamada arte moderna. A afirmação pode parecer pretenciosa, mas não é; apenas aprendi que as coisas não são tão complicadas assim, em se tratando de arte moderna. Como quase tudo na vida, é preciso informar-se e pensar sobre o assunto.
            Gompertz, ele mesmo coloca bem o problema do “julgamento” da obra de arte quando afirma “a arte abstrata nos expõe ao risco de passar por bobos, acreditando em algo que não está ali. Ou, é claro, de rejeitar levianamente uma obra de arte reveladora porque nos falta coragem para acreditar.” Eis o dilema dos amadores como eu.
            A edição brasileira do livro de Gompertz (Zahar, 2013) tem a capa de Elisa von Randow, designer e ilustradora, que associa brilhantemente o título provocativo – Isso é arte? 150 anos de arte moderna do Impressionismo até hoje – com a ilustração de Roy Lichtenstein – The gun in America –, a mão que segura um revolver diretamente apontado para o expectador, o cano fumegante. Um tiro certeiro em quem olha para o livro, e gosta de Arte!


             O autor inicia sua história com os pré-impressionistas (1820-1870), passa pelos impressionistas (1870-1890), detém-se nas ramificações pos-impressionistas , chama Cézanne de “o pai de todos nós”, continua enumerando os ismos subsequentes, coloca nas alturas o precursor da arte conceitual Marcel Duchamp (1887-1968), detém-se em Andy Warhol (1928-1987) e suas Latas de sopa Campbell, chega ao pós-modernismo, e finalmente ao que chama de “Arte agora”, com grande destaque para o britânico Damien Hirst (1965-), já no final do livro.
            Hirst é o autor de duas obras intrigantes, para dizer o mínimo: A Thousand Years (1990) e A impossibilidade física da morte na mente de alguém vivo (1991). Tive a oportunidade de vê-as pessoalmente em Londres, na Tate Modern.


Tate Modern, Londres (foto do autor).

            A Thousand Years (1) consiste numa caixa retangular de vidro de 4x2x2 m, com uma divisória de vidro no meio, com 4 orifícios redondos comunicando as duas metades. De um lado, um cubo branco, com um único ponto negro em todas as faces. No outro, a cabeça de uma vaca, em estado de putrefação. Sobre ela, está pendurado um eletrocutor de moscas, com duas lâmpadas fluorescentes que atraem os insetos. Em dois cantos da caixa, duas tigelas com açúcar. Hirst acrescentou moscas à caixa, elas põem ovos sobre a cabeça putrefacta, surgem larvas, depois moscas, que comem açúcar, copulam com outras moscas, que põem mais ovos sobre a cabeça, e eventualmente são eletrocutadas, permanecendo mortas no assoalho de vidro. A representação do ciclo da vida.
            Gompertz acrescenta: “Repulsivo? Sim. Bom? Muito. Arte? Sem dúvida alguma.” Eu gostei.


            A segunda obra, A impossibilidade física da morte na mente de alguém vivo (2), consta de um tubarão-tigre de 4 m de comprimento, suspenso numa caixa de vidro contendo formol. É impressionante.


           
            Gompertz afirma que “Arte é sempre, em certa medida, uma tentativa de criar ordem a partir do caos. ...O objetivo é sempre o mesmo: pôr a vida sob controle.” Porém, todas as referências utilizadas no livro, todas as obras, com seus respectivos autores, apresentadas são consideradas obras de arte. Nenhuma delas foi chamada de não-arte. Faltou, em meu ponto de vista, o contraditório: Isso não é arte! Como não há qualquer referência – e isso me pareceu imperdoável – a Jean-Michel Basquiat, de quem sou admirador fervoroso, pensei que a ausência de um artista seria a forma de dizer que ele não produz ou produziu arte. Porém, encontrei na Internet elogios rasgados de Gompertz a Basquiat (3).
            Não há dúvida de que o livro nos ajuda a compreender melhor a Arte, mas nada é fácil nesta vida. As respostas nunca estão todas prontas, e pensar dá muito trabalho...





2 comentários:

  1. Ora, faltou a opinião radical mas respeitável do peruano Vargas Lhosa, que tem feito quase uma cruzada contra a arte moderna que ele considera enganação. Era bom você ler a opinião dele e nos brindar com "O que é Arte o que não é 2". O importante é pensar.

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