segunda-feira, 29 de julho de 2013

Haicai ou Poetrix?


Leio com interesse e curiosidade a crítica (enfim, uma crítica!) de Dirce Waltrick do Amarante, escritora, publicada no Caderno 2 do Estadão de sábado último (27/07/2013), cujo título é Contemplação do haicai escapa ao poeta Maluquinho.
            Dirce escreve: “O que parece faltar na maioria dos haicais de Ziraldo é, acima de tudo, algo muito prezado pelos mestres japoneses: a imagem e a suspensão momentânea da linguagem demasiadamente afirmativa. A cena ambígua é o que deve predominar”. E cita um haicai de Ziraldo:

“Falei primeiro.
É um livrinho legal,
Mas falta cheiro.”

            Ao citar Roland Barthes, a autora completa: “A suspensão da linguagem no haicai aparece como uma ‘imensa prática destinada a deter a linguagem, a quebrar essa espécie de radiofonia que se emite continuamente em nós, até em nosso sono’”. Outro exemplo de inadequado haicai de Ziraldo:

“É hilário!
A internet roubou meu prazer
De ler o dicionário.”

            Ao falar da filosofia do haicai, ela acrescenta: “Podemos começar a ver quão profundamente o ser humano, em todos os tempos e lugares, se identifica com o meio ambiente onde vive e com as criaturas que o povoam”. E cita um genuíno haicai, do poeta japonês Kobayashi Issa (1762-1826):

“Ó, caracol do verão,
Você vai devagar, bem devagar,
Ao topo do Fuji!”

            Antes de mais nada, preciso dizer que gostei das duas composições do Ziraldo por ela apresentadas, que aqui reproduzo. Concordo que não sejam haicais, na acepção estrita do termo. Então, são o quê?
            A ideia de Goulart Gomes é dar-lhes o nome de Poetrix! (Leia-se neste Blog, http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2013/07/poetrix-quem-nao-conhece.html ). Já há mesmo um Movimento Poetrix (movimentopoetrix@hotmail.com), onde o leitor poderá se informar melhor.
            Há quem não esteja convencido da nova fórmula (ou forma) literária, e pense que se trata simplesmente de um terceto. De fato, é um terceto o Poetrix, por definição. Mas, ao meu ver, não é só isso. Penso que é difícil empregar o mesmo termo Haicai para as duas composições que se seguem, de Basho e Leminski, respectivamente:

“em profundo silêncio
o menino, a cotovia
o branco crisântemo”
            E:
“cemitério municipal
reina a paz e a calma
em todo território nacional”

            Penso também que ambos os tercetos têm qualidade para figurar em qualquer antologia, de Haicais e Poetrix.
            Carlos Drummond de Andrade chamou de Textos Mínimos estes tercetos, que bem poderiam ser denominados poetrix, pois haicais não o são:

Arte dos 70:
Sacramento
Do excremento.

Arrependido
O ladrão devolveu
Aquele quadro falso do Museu.

Gosto tanto de ir ao teatro
Que por amor ao teatro
Vê lá se vou ao teatro.

            No livro organizado por Rodolfo Witzig Guttilla, Haicai (Companhia das Letras, 2009, em que não aparece o termo Poetrix), estão incluídas  como haicais estas composições do grande José Paulo Paes, que igualmente ficariam bem se classificadas poetrix:

Teoria de  relatividade

devagar se vai longe
mais perto de deus o ateu
que o monge

À bengala

Contigo me faço
pastor do rebanho
de meus próprios passos.

            Segundo Goulart Gomes, “o poetrix é um poema composto de título e uma estrofe de três versos (terceto) com um máximo de trinta sílabas métricas”. 
           Outras informações pertinentes estão em Bula Poetrix ( http://www.movimentopoetrix.com/visualizar.php?idt=1402047 )
            Será que vai pegar?

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