No almoço semanal com dois
amigos, disparo a pergunta assim-sem-mais-nem-menos, sem qualquer expectativa, como
quem não quer nada, Quem já teve uma briga de rua?
A resposta do primeiro veio imediata, Dei umas porradas
num colega de turma, e quando pensei que iria ser punido por isso, minha
atitude recebeu aprovação generalizada, só porque eu era considerado bom aluno,
e nem bom aluno eu era! Saí envergonhado do episódio.
Na primeira chance o segundo amigo emendou, Um vez dei um
soco na cara de um menino que ele caiu desconjuntado e eu saí cantando de galo!
No dia seguinte ele me pegou desprevenido, me deu uma porrada no olho direito,
deixou aquele roxo enorme tomando metade da cara, e passei toda a semana sendo
gozado na escola, porque tinha apanhado.
Chegou a vez de contar minha façanha (e esta foi a razão
da pergunta assim-sem-mais-nem-menos-como-quem-não-quer-nada no início do
almoço...). Foi com um menino que morava em frente a nossa casa, da mesma idade
que eu, um pouco mais alto (todos eram mais altos), colega de turma na escola
primária, ambos com 7 anos de idade. Não faço a menor ideia da razão da tal
briga, mas me lembro bem que num golpe de sorte derrubei-o ao chão e o
calçamento de paralelepípedo fez o resto do serviço: abriu-lhe a testa.
Sangrando, entrou chorando para casa. Eu, vitorioso.
Na hora do frege, não pude me lembrar de um detalhe
importantíssimo, o de que o pai do menino era Juiz! Na época, eu não sabia bem
o que significava de ser um Juiz, mas pensava que era o homem que mandava
prender as pessoas. Pelo menos, em casa falava-se dele com respeito. Passei o
resto da tarde apreensivo, até que no início da noite toca a campainha, meu pai
foi atender, era o Juiz! Tremendo de medo, ouvi a conversa atrás da porta.
O Juiz nem sequer foi convidado a entrar, a conversa
deu-se ali mesmo, à porta da frente. O homem falou falou falou, protestou até
não poder mais, ameaçou meu pai, disse outras tantas coisas das quais não me
lembro (em mim só cabia o medo de ser preso), esbravejou esbravejou esbravejou.
Meu pai permanecia em silêncio, nem uma
única palavra, enquanto o magistrado despejava toda sua indignação.
Não tem jeito, vou ser
preso mesmo, pensei.
Às tantas, parece que o homem se cansou, fez uma pausa,
era a chance que meu pai parecia esperar:
– Foi só uma briga entre meninos.
Fechou a porta em seguida, e nunca mais se falou do
assunto.
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