quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Folhas




o sol horizontal do fim da tarde
incendeia as folhas
que já vão frágeis em textura
pobres de seiva
tênues véus de escassa serventia
prestes a deitar ao solo
a luz que as atravessa

resta a derradeira cor
o leve embalo do vento

a vida passou
eu fiz o que pude
  
                     Paulo Sergio Viana (poema e foto)


Visitem o blog do Paulo para ler outros textos e poemas:
https://blogdopaulosergioviana.blogspot.com/2018/10/folhas.html


Dia D




31 de outubro, Dia D

Dia D, data criada em 2011 pelo Instituto Moreira Salles para celebrar a data de nascimento de Carlos Drummond de Andrade.


CASAMENTO DO CÉU E DO INFERNO

No azul do céu de metileno
a lua irônica
diurética
é uma gravura na sala de jantar.

Anjos da guarda em expedição noturna
velam sonos púberes
espantando mosquitos
de cortinados e grinaldas.

Pela escada em espiral
diz-que tem virgens tresmalhadas,
incorporadas à via láctea,
vagalumeando...

Por uma frincha
o diabo espreita com o olho torto.

Diabo tem uma luneta
que varre léguas de sete léguas
e tem o ouvido fino
que nem violino.

São Pedro dorme
e o relógio do céu ronca mecânico.

Diabo espreita por uma frincha.

Lá embaixo
suspiram bocas machucadas.
Suspiram rezas? Suspiram manso,
de amor.

E os corpos enrolados
ficam mais enrolados ainda
e a carne penetra na carne.

Que a vontade de Deus se cumpra!
Tirante Laura e talvez Beatriz,
o resto vai para o inferno.

                        Carlos Drummond de Andrade
                        Alguma poesia (1930)

terça-feira, 30 de outubro de 2018

humano olhar




como penetrar
no íntimo dessa alma
de humano olhar


Foto: AVianna, out 2018

Paula mergulha em Recife

A foto do dia



Paula espetacular

Narciso e Eco

Meus quadros favoritos


Solomon Joseph Solomon

Pintor britânico de origem judaica, famoso como retratista (1860-1927).

Ainda somos um Estado laico?




Poucos haverão de concordar com as ideias que passo a exprimir, e por várias razões, principalmente porque o Brasil é um país profundamente religioso, desde os primórdios da colonização portuguesa. O assunto, no entanto, aparece na mídia com bastante frequência. Acrescento, antes de mais nada, que não se trata do tema mais importante do momento, levando-se em conta o descalabro econômico em que nos encontramos e sua principal consequência, os milhões de desempregados. Mesmo assim, deixo aqui meu registro.
            Preocupa-me, entre tantos problemas, a exagerada posição de destaque que ocupa a religião nos dias de hoje, ainda mais após o primeiro pronunciamento do presidente eleito. (O Professor Arthur Giannotti, em entrevista para o programa Roda Viva de ontem (29 out 2018), também mostrou-se impressionado com o que chamou de “rezaria”, no tal pronunciamento.)
Em reportagem de hoje para a Folha de S. Paulo – “Católico, Bolsonaro investe em pauta evangélica e domina segmento” – (30.out.2018), Anna Virginia Balloussier afirma que “Por sete vezes Jair Bolsonaro evocou, no primeiro discurso que deu após ser eleito presidente do Brasil, o ente máximo para as maiores religiões do planeta. E se chegou tão longe pode dar graças a Deus e também a líderes evangélicos que dizem falar em Seu nome.” 
Acrescentou o presidente eleito: “O nosso slogan eu fui buscar naquilo que muitos chamam de caixa de ferramenta para consertar o homem e a mulher, que é a Bíblia Sagrada. Fomos em João 8:32: e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. A  oração puxada pelo pastor e senador de saída Magno Malta foi mais longe: “A Tua palavra diz que a autoridade é ungida por Deus, e o Senhor ungiu Jair Bolsonaro”. Então, teremos um Presidente ungido! Talvez infalível?
Informa Balloussier que os “católicos ainda são o maior naco religioso do eleitorado, 56%, aponta pesquisa Datafolha. Mas boa parte só diz que é católica, sem necessariamente ser praticante, enquanto “evangélicos são muito mais ativos, compromissados”.  Ou seja: fidelizam. Fora terem um senso de comunidade forte, no qual ideias circulam mais fácil. E que político não aprecia ter seu nome propagado num grupo coeso?” Os evangélicos eram 9% na década de 1990 e hoje alcançam 30%.  
Continua a reportagem: “Desde o início da redemocratização, várias igrejas, sobretudo pentecostais, passaram a promover uma instrumentalização da política, e vice-versa. [O grifo é meu.] No segundo turno de 1989, o apoio foi em massa para Collor, e ali já começavam as fake news.” Malafaia diz à Folha que sua amizade com Bolsonaro começou por volta de 2006, ano de criação de um projeto de lei que horrorizou a bancada evangélica no Congresso: o PL 122, que criminalizava a homofobia. Pastores temiam ser processados caso pregassem contra o casamento gay, caso o texto fosse aprovado.
Em 2010, a relação com evangélicos se estreita após Bolsonaro abraçar a luta contra um pacote anti-homofobia a ser adotado em escolas, que a frente religiosa rotulou de “kit gay”.  
Conclui o artigo da Folha: “Tudo isso ajudou a amalgamar o eleitorado evangélico, que deu a Bolsonaro cerca de 22 milhões de votos (70% do segmento), segundo projeção do Datafolha. Sua diferença com Fernando Haddad (PT) foi de 11 milhões de eleitores.” 
            Ora, fica cada vez mais evidente a ingerência da bancada religiosa nos assuntos de Estado, alguns deles fundamentais, como a Educação. Num país dito laico, a separação entre Religião e Estado é primordial, todos sabemos disso. Porém, se para serem eleitos os políticos precisam vender a alma ao diabo, a palavra “amalgamar” utilizada na reportagem acima está bem empregada.
            Como discutir assuntos de relevância universal como o aborto e a eutanásia, dentre outros, diante da força crescente da bancada da Bíblia? Até que ponto os costumes já absorvidos pela sociedade contemporânea serão afetados por esta influência?
A pergunta que nos resta fazer é se ainda vivemos em um Estado laico. 






domingo, 28 de outubro de 2018

Treinar para ouvir




Ao folhear o jornal de sábado, atormentado com tantas e tão disparatadas notícias da política nacional, uma certa manchete despertou-me curiosidade, publicada na sessão Saúde da Folha de S. Paulo (26 out 2018), reportagem de Cláudia Collucci:

“Treinar médicos para ouvir pode reduzir ansiedade e depressão na população.”

            Minha primeira impressão , antes mesmo de ler a matéria, foi a de que se tratava de mais uma crítica aos médicos, que cada vez ouvem menos seus pacientes. A recomendação pareceu-me apropriada, na era do prontuário eletrônico, o paciente escondido atrás da tela do computador. Há muito que a chamada relação médico-paciente vem se deteriorando; há publicações em revistas médicas de peso chamando a atenção para o problema; e um dos problemas é mesmo a dificuldade do médico para ouvir seu paciente.
            Enganei-me, não era este o enfoque. A reportagem traz interessante proposta para o tratamento de pessoas que necessitam atendimento psiquiátrico, em países onde o número desses especialistas é reduzidíssimo. (No Zimbábue há dez psiquiatras para uma população de 13 milhões de pessoas.)
            Diz a reportagem: “O treinamento de profissionais da atenção primária, como médicos de família e enfermeiros, combinado com iniciativas que envolvam a comunidade pode ser o caminho para aumentar a oferta de tratamento de transtornos mentais como a depressão e a ansiedade.”
Quem faz tal afirmação é o psiquiatra Shekhar Saxena, 62, professor do departamento de saúde global de Harvard e ex-diretor de saúde mental da OMS.
Saxena é um dos autores de recente relatório publicado na revistaThe Lancet, com  severas críticas aos tratamentos de saúde mental e subfinanciamento por parte dos governos.
Vem ganhando apoio internacional o “friendship bench” (banco da amizade, numa tradução livre), desenvolvido pelo professor Dixon Chibanda, da Universidade do Zimbábue. “Chibanda treinou avós para ouvir e orientar pessoas com depressão e ansiedade. Um estudo publicado no Jama(Jornal da Associação Médica Americana) mostrou que aqueles que sentaram no banco e contaram seus problemas para as avós tiveram maior redução de sintomas da depressão e da ansiedade do que aqueles que não tiveram essa escuta.”
Os bancos foram inicialmente testados no Zimbábue e atualmente estão sendo usados no Malaui, em Zanzibar e até em Nova York, em bairros como Bronx e Harlem. 
            Relata ainda a reportagem: “A atenção primária varia muito de país para país. Em alguns, os serviços são gerenciados por médicos e enfermeiros, em outros por mais profissionais da saúde. Todos podem ajudar, mas de diferentes maneiras. Médicos e enfermeiras podem ser treinados para identificar e tratar pessoas com as desordens mentais mais comuns como depressão, ansiedade e problemas com álcool e drogas. Eles podem ajudar de 60% a 70% das pessoas. Algumas vão precisar ser encaminhadas a um especialista, mas será a minoria. A maioria pode ser cuidada em uma atenção primária bem treinada.”
            A proposta, na realidade, chama nossa atenção para as relações interpessoais, algo que está acima da relação médico-paciente. Não há nada a nos surpreender, pois a ação terapêutica de uma conversa bem dirigida (pessoas treinadas para ouvir) há muito está estabelecida. A questão se resume em saber ouvir, esta a grande dificuldade do ser humano.



quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Protesto Palestino

A foto do dia


Homem empunha bandeira palestina enquanto arremessa pedra
com uma funda, em cidade ao norte de Gaza
Foto: Mustafa Hassona/Anadolu Agency/Getty Images


A foto de um palestino arremessando pedras contra soldados israelenses em Gaza viralizou nas redes sociais pela semelhança com a pintura “A Liberdade Guiando o Povo”, de Eugène Delacroix (25 out 2018).
A cena foi retratada por Mustafa Hassouna, da agência Anadolu, na cidade de Beit Lahiya, durante protestos contra o bloqueio marítimo de Gaza imposto por Israel. 


"Liberdade Guiando o Povo", Eugène Delacroix




Duas portas

fotominimalismo




Foto: AVianna, Pirenópolis, abr 2018
Nikon D7200

Aldravia N.77





escondida
quieta
Falena
espreita
o
jardim


Foto: AVianna, out 2018, Iphone

Dia Nacional do Macarrão




Texto publicado no "Diário Oficial" da União: 


LEI N 13.050, DE 8 DE DEZEMBRO DE 2014

Institui o dia 25 de outubro como Dia Nacional do Macarrão.

A PRESIDENTA DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Art. 1 Fica instituído o Dia Nacional do Macarrão, a ser celebrado em todo o território nacional, anualmente no dia 25 de outubro.

Art. 2 Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 8 de dezembro de 20154; 193 da Independência e 126 da República.

DILMA ROUSSEFF


A proposta foi apresentada em 2004 pelo deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) e foi elaborada à pedido da ABIMA (Associação Brasileira da Indústria Alimentícia).
O dia 25 de outubro foi escolhido porque é a data em que empresas produtoras de macarrão fazem doações do alimento a entidades beneficentes no país. 

Como este blogueiro gosta muito de macarrão, ele se abstém de qualquer comentário... De qualquer modo, este é o Brasil que temos.


Foto: Filico / Divulgação


Voto nulo


Alexandre Schwartsman, economista, consultor, ex-diretor do Banco Central (2003-2006), doutor pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, publicou hoje na Folha de S.Paulo (24 out 2018) o artigo Por que votarei nulo, de uma clareza e honestidade impressionantes. Como também votarei nulo, passo a destacar algumas das ideias apresentadas por Schwartzman.
Afirma ele: “Defendo a democracia liberal, caracterizada pelo respeito às liberdades individuais, entre elas a liberdade de expressão, a conquista do poder pelo voto popular e a possibilidade real de alternância de poder. ...Do ponto de vista econômico, sou adepto do livre mercado e favorável à existência de alguma rede de proteção social, bem como de políticas que facilitem o acesso à educação.”
A partir dessas premissas, ele votará nulo no segundo turno.
Acredita que, no caso de Fernando Haddad , propostas dele “nos levariam a um desastre como o vivido recentemente em razão da Nova Matriz Econômica, cuja responsabilidade, é claro, é de Dilma Rousseff e do PT.”
No caso de Jair Bolsonaro, o programa econômico “é para lá de vago”; “Elogios à ditadura militar, louvor a um conhecido torturador e outras manifestações do mesmo calibre tornam impossível, para mim, votar em Bolsonaro. Simplesmente não cabem no meu credo, mesmo que fosse possível acreditar em sua conversão ao liberalismo econômico e à austeridade fiscal.”
Quanto a Fernando Haddad, que Schwartzman considera um amigo e uma pessoa de bem, representa “forças políticas cujo compromisso com a democracia me convence ainda menos que o liberalismo econômico de Bolsonaro. ... Aqui me refiro tanto a propostas concretas (“adormecidas” no segundo turno) — na linha da convocação de uma constituinte e manobras pouco disfarçadas de controle da mídia — como ao histórico do PT, inclusive sua recusa descarada em aceitar decisões do Judiciário. ...Sua autocrítica não vai além do lamento de não terem conseguido controlar instituições como o Ministério Público, a Polícia Federal e as Forças Armadas, além, é claro, de “democratizar a mídia”.
O articulista faz ainda uma afirmação corajosa, ao lembrar que "o 'guerreiro do povo brasileiro', o condenado José Dirceu, recentemente proclamou que o partido pretendia “tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição".
E Schwartzman conclui: “Só me sobra, portanto, anular o voto e torcer para que na próxima eleição apareçam candidatos com posicionamentos mais próximos aos meus, de preferência com reais chances de serem eleitos.”
            Eu gostaria de ter lucidez e inteligência para expor minhas ideias com tamanha clareza e propriedade. Não o tenho; uso então das palavras do economista ilustre, para dizer que penso exatamente como ele, e como ele anularei meu voto.
 


terça-feira, 23 de outubro de 2018

Entre a Cruz e a Caldeirinha


...
– Anulo meu voto.
– Não faça isso.
– Faço.
– Assim você ajuda a eleger o pior.
– Não há pior nem melhor.
– Sempre há um pior...
– A escolha entre Marcola e Beira-mar?
– ...
– Triste sina a de escolher o menos ruim.
– É preciso ser pragmático.
– Voto nulo e pronto.
– Só pra dizer que não votou no cara, se der errado?
– Tem muita chance de dar errado.
– Então...
– Anulo meu voto, durmo tranquilo.
...

É de chorar!




Número 16, de Jackson Pollock


Tela do pintor Jackson Pollock pertencente ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro será leiloada para que a instituição possa se capitalizar. 
A obra intitulada "Número 16" pode alcançar US$ 18 milhões (R$ 67 milhões) em Nova York, em novembro, valor menor do que o inicialmente esperado pelo MAM. 
“A ideia é que a venda ajude o museu a criar um fundo cujos rendimentos lhe permitirão se sustentar pelos próximos 30 anos, realizando melhorias de infraestrutura, pessoal e acervo. O custo anual da instituição —privada— é de R$ 6 milhões, bancado por empresas mantenedoras. O déficit atual é de R$ 1,5 milhão.” É o que informa o artigo da Folha de S. Paulo (23 out 2018).
“Esta é a primeira vez que um museu brasileiro se desfaz de uma obra de seu acervo para angariar fundos. "Número 16" data de 1950 e é uma das obras mais valiosas da coleção do MAM.
E assim o Brasil vai se empobrecendo.



Piano e aprendizado da linguagem



Estudar piano, segundo pesquisa recente, pode ajudar a criança a desenvolver mais rápido algumas das suas capacidades. O artigo é de Alejandra S. Mateos, para El País (14 out 2018).
A pesquisa, realizada Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos, e da Beijin Normal University, da China, descobriu que “quando as crianças começam a tocar piano desde pequenas, melhora a maneira como processam o som. Algo que não está só relacionado à música, mas também à capacidade de entender a linguagem.”
74 crianças, falantes de mandarim, entre 4 e 5 anos, foram divididas em três grupos: 1) estudantes da educação tradicional; 2)  ensino de leitura;  e 3) aqueles que tinham uma aula de piano de 45 minutos por semana. 
“As crianças que tocavam piano tinham maior capacidade de compreensão e distinção da linguagem falada que os dos outros dois grupos, que tinham mais problemas para entender as palavras com variações sutis de consoantes que soam de forma similar, como T e D.
O que a pesquisa demonstra é que as aulas de piano ajudam a melhorar o processamento neuronal do tom.”
Outro trabalho, publicado na Nature Reviews Neuroscience, explica “o profundo impacto que a música tem em nossas capacidades para aprender uma língua, melhorar a concentração, a memória e as emoções. Pesquisa da Universidade de Toronto demonstrou que por mais que a inteligência dependa dos genes em 50%, as aulas de música representavam um aumento em várias métricas de inteligência das crianças que as praticavam em relação às demais.”
Aulas de piano também aumentam o quociente intelectual de forma semelhante à leitura porque “ao tocar um instrumento, muitas áreas cerebrais são acionadas”, esclarece Ferrero: “Os pianistas necessitam se concentrar em sua respiração, nos diferentes tipos de notas, na harmonia, nos intervalos, no ritmo. Além de ler e decifrar a melodia, de forma imediata a transformam em sons ao tocar as teclas, que são 88, com as duas mãos”. 
Tocar piano envolve quase todas as áreas do cérebro simultaneamente, especialmente o córtex auditivo, o motor e o sensitivo: “Os músicos desenvolvem em especial o cerebelo, relacionado aos movimentos musculares e ao corpo caloso, que conecta os dois hemisférios para coordenar os movimentos de ambas as mãos ao mesmo tempo, ligando o criativo do hemisfério direito com o matemático do esquerdo”. Também desenvolvem quase por igual a cissura central dos dois lados, que se crê seja responsável por estabelecer a dominância da mão hábil em toda pessoa. Ou seja, de certa maneira tornam-se ambidestros.”
O artigo traz uma conclusão interessante: “Porém isso não implica que o piano torne mais inteligentes quem o pratica, afirma o especialista, que considera que talvez seja o contrário: as pessoas mais inteligentes é que se sentem mais atraídas a praticar o instrumento.”



sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Onde está o Sabiá?

Para a Gabriela


Lembro-me bem. Quando morávamos em Londres, nos idos de 1984, minhas filhas passavam meses estudando sobre camuflagem no reino animal. Todos achávamos a palavra inglesa camouflage uma linda palavra!
A palavra camuflar vem do italiano camuffare, passando pelo francês camoufleur
O que importa é que há um sabiá camuflado na foto acima. Gabriela, você consegue encontrá-lo?

Foto: Mercêdes Fabiana, out 2018, jardim.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Banksy 3


Deu no Estadão de hoje (18 out 2018):

“O artista de rua Banksy revelou que sua obra Girl With Balloon (Menina com Balão), leiloada no dia 5 de outubro na casa Sotheby's e imediatamente autodestruída de forma parcial, deveria ter sido cortada em pedaços totalmente, mas o sistema instalado na moldura do quadro falhou.”

O artista diz ter se inspirado numa frase de Pablo Picasso: "A necessidade de destruir é também uma necessidade criativa".

O leitor tire as suas conclusões.



quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Data da erupção do Vesúvio

A foto do dia



Foto: Ciro Fusco / EFE

Novas escavações em Pompéia revelam lindos afrescos. Numa das paredes foi encontrada a data da erupção do Vesúvio: 24 de outubro, e não 24 de agosto, como se pensava, por causa da carta escrita por Plínio, o Jovem, a Tácito.


Wildlife Photographer of the Year 2018





Imagem vencedora deste ano: dois macacos-de-nariz-arrebitado, ameaçados de extinção, são fotografados sentados sobre as pedras, olhando fixamente na mesma direção. 
(Reportagem de Jonathan Amos, para a BBC News, 17/10/2018).
Os vencedores da premiação foram anunciados na noite de terça-feira em um jantar de gala no Museu de História Natural de Londres, na Inglaterra. 
A foto campeã foi tirada pelo fotógrafo holandês Marsel van Oosten nas montanhas chinesas de Qinling. 



terça-feira, 16 de outubro de 2018

Haja estômago!




"Ex-médico Roger Abdelmassih é condenado a 181 anos de prisão por estupros e inspira minissérie."
            Esta a manchete estampada na página do G1 de hoje (16 out 2018); ontem teve início, na TV aberta (Globo), a minissérie Assédio, estrelada por atores de peso. 
De fato, são duas manchetes em uma: a condenação do criminoso e a criação da minissérie. Subliminarmente, a primeira é chamariz para a segunda: Senhores, vejam na tv a história do criminoso condenado a 181 anos de prisão.
            A arte imita a vida? Ficção inspirada na realidade? Seja lá o que for, ao ver o magnífico Antonio Calloni representar o papel do médico psicopata, no primeiro capítulo da série, minha vontade era de vomitar. Os olhares lascivos e doentios do personagem, além da cena de estupro, deixaram-me perguntando sobre as razões para a criação de minissérie como esta.
            Sensacionalismo barato e de mau gosto? Exploração da curiosidade mórbida do telespectador? Interesse financeiro apenas? E o que pensarão as 39 mulheres, vítimas de 52 estupros, ao verem – talvez reviverem – as cenas de tamanho realismo e crueldade? 
            Porque se trata de assunto doméstico e ainda presente nas páginas dos jornais e na Internet, a impressão que se tem é de realidade pura, e não de ficção. Minha impressão subjetiva era a de que estava assistindo a um documentário.
            O tema violência contra a mulher está na ordem do dia, com muita propriedade. Será esta, a apresentação de uma série de tv, a melhor forma de tratar do assunto estupro? Se for, haja estômago.
            Meu sábio irmão certamente diria: Qual a necessidade?
            




Banksy volta à cena



Seriam vítimas de uma nova armadilha? É o que os curiosos que se amontoavam na calçada da New Bond Street, de Londres, no último sábado, se perguntavam. 
            A razão do espanto? A Sotheby’s anunciara que, durante este fim de semana, o público poderia ver exposta a obra de arte que provocou tanto alvoroço: Menina Com Balão, do grafiteiro Banksy. 
Aliás, o artista rebatizou sua criação, que passou a chamar-se Love Is In the Bin (O Amor Está no Lixo), depois que foi triturada no leilão. 
Mas o que este blogueiro deseja destacar é a mais recente avaliação  da compradora da obra.  A mulher (anônima) que adquiriu a tela por mais de um milhão de euros (4,37 milhões de reais) manteve a decisão de ficar com ela, apesar de semi-destruída.
Afirmou ela: “Depois do susto inicial, comecei a perceber aos poucos que tinha nas mãos uma peça da história da arte”.
            Esta foi a opinião deste blogueiro, expressa no dia seguinte ao leilão: A pintura picotada ainda vai parar em um grande museu do mundo, tal qual o urinol de Marcel Duchamp! Ela representa um momento único na História da Arte. (https://loucoporcachorros.blogspot.com/2018/10/o-espetaculo-de-banksy.html)
            Para onde vai este mundo de deus?



domingo, 14 de outubro de 2018

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Filósofo em meditação

Meus quadros favoritos


"Filósofo em meditação"

Rembrandt (1632), Museu do Louvre


            Dois pontos distintos, opostos, contrários, chamam a atenção do observador desde a primeira mirada à pintura de Rembrandt: a luz que vem da janela e a escuridão no alto da escada. Conhecimento e razão opõem-se desde sempre à ignorância e insensatez.
            O filósofo, à luz da razão, permanece quieto; ele pensa, provavelmente. Mas sabe que a poucos passos está a longa e sinuosa escada do aprendizado, espiral sem fim.
            No canto inferior esquerdo da pintura uma mulher aviva o fogo; ela trabalha (enquanto o filósofo medita), e dali também emanam luz e calor.
            Há uma pequena porta atrás do velho sentado, que permanece fechada; talvez represente o conhecimento proibido ao humano.
            Trata-se sem dúvida de uma cena doméstica. A cor marrom do interior – cor de terra – contrapõe-se ao amarelo dourado da luz que penetra na janela. A curvatura da janela tem continuidade com o teto, com a parte inferior da escada e com o piso iluminado, formando um círculo perfeito. Mais uma vez a técnica do claro-escuro.
            Estas são as associações que Rembrandt em mim suscita.
            

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Madrigal


Meu amor é simples, Dora,
Como a água e o pão.

Como o céu refletido
Nas pupilas de um cão.


                             José Paulo Paes
                             Poesia Completa, Cia das Letras, 2018.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

O espetáculo de Banksy




A obra “Garota com balão”, cópia de desenho de Banksy feito originalmente num muro em Londres em 2002, depois de ser vendida por um lance de 1 milhão de libras esterlinas, foi imediatamente autodestruida por um dispositivo remoto desconhecido.
            Lance espetacular de marqueting!




                   A pintura picotada ainda vai parar em um grande museu do mundo, tal qual o urinol de Marcel Duchamp! Ela representa um momento único na História da Arte.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Oásis na Savana


     
  
Oásis de vegetação na África
Foto: Monica Nobrega/Estadão


O biólogo Fernando Reinach, em artigo para O Estado de S.Paulo (6 out 2018), Oásis na Savana, destaca que há milhares de anos, no período neolítico, o homem conseguiu melhorar o ambiente em que vivia, deixando marcas que podem ser observadas até hoje. 
Afirma Reinach: “As Savanas africanas, onde pastam os grandes herbívoros e vivem os grandes carnívoros, têm um solo extremamente pobre, que sustenta uma vegetação rala. Florestas e campos luxuriantes são raros. Mas se você observar a região com um satélite vai descobrir milhares de círculos de aproximadamente 100 metros de raio onde a vegetação é luxuriante, e pequenas florestas podem ser vistas.”  
Muitos desses círculos têm pequenos vilarejos habitados por criadores de gado e outros herbívoros, contendo um curral onde o gado é recolhido durante a noite. Naturalmente, as fezes do gado tornam o solo mais fértil. Porém, há um número muito maior desses círculos que o esperado pela quantidade de habitantes que existe na área. 
Agora surge o fato mais interessante: os cientistas decidiram escavar exatamente onde estavam esses círculos férteis não ocupados. O resultado foi surpreendente, afirma Reinach: “Em quase todos esses locais, foram descobertas ruínas de povos pastorais da época neolítica (1,5 mil a 3,7 mil anos atrás), o que indicava que talvez esses locais fossem os currais das culturas neolíticas da África. Mais interessante é o fato de que nesses locais não se acharam indícios de ocupação recente, o que indica que essa ilha de fertilidade teria sido criada por seres humanos milhares de anos atrás.” 
A presença de seres humanos do neolítico fertilizou essas ilhas de terra, resultando em aumento da biodiversidade, atraindo mais herbívoros, árvores e pássaros. 
Conclui Reinach: “É boa notícia, que reforça a ideia de que as intervenções humanas não são obrigatoriamente destrutivas. Quem poderia imaginar 2 mil anos atrás que um curral cheio de fezes iria se transformar em um luxuriante oásis?”
            O que chamou a atenção deste blogueiro foi a fantástica ideia dos cientistas de escavar exatamente nos oásis inabitados, em busca de algo que ignoravam completamente. Encontraram vestígios de povos pastorais.
            Lembrei-me de minha experiência no hospital King’s College, em Londres, nos anos 80. Quanto os pesquisadores, médicos e cientistas, sentavam-se para o chá – acompanhado de insípidos biscoitos –, pela manhã e à tarde, a conversa entre eles era quase sempre sobre pesquisa. Surgiam ideias brilhantes, às vezes mirabolantes; eles não estavam preocupados com a viabilidade dos projetos, apenas exerciam a arte de pensar sobre Pesquisa. Muitas ideias eram aproveitadas e desenvolvidas pelos 50 componentes da Unidade de Fígado do hospital, quase todos estrangeiros. A conversa era sempre enriquecedora. Penso que isso faz a diferença.