sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Deveres dos visitantes

Este blog já postou fotografia de estátuas cobertas por tapumes de madeira, durante a recente visita do presidente do Irã, Hassan Rowhani à Itália. http://loucoporcachorros.blogspot.com.br/2016/01/a-arte-ignorada.html 
O Louco volta ao assunto, motivado pela importância de temas como o respeito às diferentes culturas, a preservação dos valores de cada povo, enfim, a tolerância às diferenças.
Este mesmo presidente em seguida visitou a França, e confraternizações à mesa, os chamados banquetes, foram cancelados, porque os franceses recusaram-se a atender o pedido dos iranianos, de que não houvesse bebidas alcoólicas durante as refeições. Sem vinho não há refeição, devem ter dito os orgulhosos autóctones. Lá, o vinho é servido até mesmo para pacientes internados em hospitais.
O premiê italiano Matteo Renzi recebeu uma enxurrada de críticas, tanto da esquerda quanto da direita, e conseguiu desagradar a todos aqueles ligados ao mundo das artes.
Com quem está a razão?
Quando recebemos uma visita, nos esforçamos para agradá-la. Se ela não come carne de porco, não vamos servir uma leitoa assada pururuca. É preciso respeitar a cultura do visitante.
Entretanto, penso que o mesmo deve valer para os hóspedes! Mesmo que não aprovem determinadas condutas ou hábitos, os visitantes devem tolerá-los, como sinal de respeito à cultura alheia.
Ao cobrir os mármores, o governo italiano deu mostras de subserviência, arranhou a democracia, abriu mão de alguns de seus valores mais venerados, como a arte.
Há uma clara explicação para isso: acordos comerciais firmados entre Itália e Irã podem chegar a € 17 bilhões (R$ 75,4 bilhões). Cifras maiores são esperadas nos acordos com a França.
Explicações nem sempre se justificam. As concessões são feitas em troca de negócios. Até aí, tudo bem, para quem não é fundamentalista... Porém, penso que deve haver limites para tais concessões, para que não se chegue à negação da própria cultura.



quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Guerra do acarajé



A notícia espalhou-se, não posso assegurar a veracidade das fontes, mas de tão engraçada vem para o Louco, mais uma do “país da piada pronta”, como diz o cronista José Simão.
Algumas baianas do acarajé mudaram de religião, saíram do candomblé e se tornaram evangélicas, mas não quiseram mudar o ganha-pão, deixar de vender o acepipe. Esbarraram então nos pastores de algumas igrejas evangélicas. Segundo eles, elas precisavam abandonar as roupas típicas de baiana, próprias de quem é do candomblé, e tinham que mudar o nome do produto que vendiam, o sagrado acarajé. O delicioso bolinho de feijão fradinho, temperado com cebola e pimenta, frito em óleo de dendê, agora deverá chamar-se “bolinho de Jesus”.
            As baianas tradicionais não gostaram da ideia, e está criada a guerra do acarajé!

A arte ignorada

A foto do dia.


Romanos cobrem as estátuas nuas para não incomodar delegação iraniana, na visita do presidente Rassan Rohani à Itália.
Eles não sabem o que estão perdendo...

Foto: Giuseppe Lami / AP 

Franqueza de criança

– Ganhou bala do pai, João!

– Teria ganho muito mais, mãe, se ele não tivesse comprado maçãs para aquela mulher.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Fome na Coreia do Norte

Segunda foto do dia


“Cerca de 25 mil crianças necessitam de tratamento imediato contra a desnutrição depois que uma seca reduziu a produção de alimentos em um quinto e o governo de Kim Jong-un diminui a quantidade das rações distribuídas à população, alerta a Unicef, de acordo com o jornal britânico Guardian, nesta terça-feira (26). A informação é relevante diante da falta de notícias precisas sobre um dos regimes mais fechados do mundo.”

http://epoca.globo.com/tempo/filtro/noticia/2016/01/unicef-alerta-que-25-mil-criancas-estao-desnutridas-na-coreia-do-norte.html




Xadrez, obra do diabo?



Sob o título Razões para proibir o xadrez, o artigo de Leontxo García publicado no El País de 24/1/2016 dá o que pensar. O grão-mufti (autoridade religiosa) da Arábia Saudita acaba de proibir o jogo de xadrez em todo o reino!
Afirma Abdulaziz al-Sheikh, o tal grão-mufti, sobre o jogo: “Faz do pobre um rico, e do rico um pobre. Cria hostilidade e faz perder tempo”. Ou seja, iguala aqueles que o praticam, e isso é considerado um problema.
O grão-mufti diz ainda que o xadrez estimula apostas em dinheiro, o que é proibido pelo Corão. Isso ocorria na Idade Média, mas desapareceu desde então. Alerta Garcia: “Há apostas na Internet sobre o resultado dos torneios, como ocorre em quase todos os outros esportes. Mas é muito improvável que Abdulaziz al-Sheikh se refira a isto, porque então teria de proibir todos os esportes.”
E o grão-mufti continua: “O xadrez é obra de Satanás”. O imã Khomeini já havia proibido o jogo logo após o triunfo da Revolução Islâmica do Irã, em 1979, afirmando: “O xadrez é um jogo diabólico que perturba a mente de quem o pratica”. Khomeini mudou de ideia antes de morrer e o Irã é hoje uma das grandes potências do xadrez asiático.
O Talibã afegão também o proibiu, em 1996, e os jogadores da seleção nacional tiveram que fugir do país para participar das Olimpíadas de Xadrez e de outros torneios.
Leontxo García enumera uma curiosa série de proibições ao longo dos séculos: “[O xadrez] foi proibido em algum momento pelo cristianismo, pelo islamismo e pelo judaísmo. Buda vedou os jogos praticados nos tabuleiros de oito por oito casas. O monge cisterciense francês São Bernardo de Claraval, no século XII, definiu o xadrez como “um prazer carnal”. O arcebispo de Florença achava o xadrez “vergonhoso, absurdo e asqueroso”. E algo parecido ocorreu no século XIII com o arcebispo de Canterbury, que qualificou o xadrez como um “vício execrável” e condenou o prior de Norfolk a três dias a pão e água após descobrir que ele era enxadrista. Durante os tempos da Santa Inquisição, o famoso Savonarola, confessor de Lourenço de Médici, ameaçou à condenação eterna quem fosse flagrado jogando xadrez. Finalmente, embora por razões muito distintas, o Governo chinês proibiu o xadrez (assim como a música de Beethoven e tudo aquilo que tivesse qualquer ar “ocidental”) no contexto da Revolução Cultural (1966-1976).”
            O papel dos árabes na evolução histórica do xadrez foi fundamental. Eles o difundiram entre os persas e o levaram para a Espanha. De início era praticado pelos ricos, mas nos séculos seguintes difundiu-se a tal ponto que “o rei Alfonso X, o Sábio, escreveu no século XIII um livro de xadrez onde sugere a ideia de que esse jogo seria uma magnífica ferramenta para favorecer a boa convivência entre muçulmanos, judeus e cristãos”, afirma Garcia. Atualmente a Federação Internacional de Xadrez aglutina 188 países, inclusive quase todas as nações muçulmanas.
Qual então a verdadeira ameaça representada pelo jogo do xadrez? Leontxo García conclui seu artigo de forma magistral: “o fato de os cidadãos pensarem pode ser muito perigoso para os líderes extremistas irracionais”.
A célebre frase de Guimarães Rosa, repetida à exaustão no Grande Sertão, – “viver é muito perigoso” –, também pode ser expressa e resumida da seguinte maneira:

– Pensar é muito perigoso!


Foto: www.tomcoelho.com.br