Ontem, na Folha, Hélio Schwartsman
volta ao assunto, com a crônica Enem, 1001
utilidades. Destaca o grande articulista: “Temo,
porém, que o MEC tenha ido com muita sede ao pote e tenha empurrado para o Enem
mais funções do que o exame é capaz de suportar. A prova vem sendo usada para
certificar a conclusão do ensino médio (a antiga madureza), para alocar bolsas
do ProUni, para avaliar escolas públicas e privadas e até para decidir quem vai
passar uma temporada no exterior no Ciência sem Fronteiras. É difícil pôr no
mesmo teste aquilo que é necessário para desempatar dois candidatos
ultrapreparados que disputam uma vaga no curso de medicina, por exemplo, e os
conhecimentos básicos que se exigem do sujeito que só quer o diploma do ensino
médio. O resultado são provas ultralongas que prejudicam os estudantes pelo
cansaço a que os submetem. Pior ainda quando o mesmo exame é usado também para
avaliar instituições. Aí as incompatibilidades não são apenas de nível como de
filosofia. Uma coisa é medir as competências do aluno e outra muito diferente
aferir a qualidade da escola, objetivo que fica ainda mais difícil quando se
considera que só fazem o teste os alunos que o desejam.” (1)
Hélio termina o texto com o humor
inteligente de sempre: “Ao contrário da palha de aço, devemos desconfiar de uma
prova que proclame ter 1001 utilidades.”
Porém, é provável que o atual ministro
da Educação entre para a História como aquele que moralizou o Enem, feito que
já parecia impossível, tantos e tamanhos os escândalos envolvendo a prova em
anos anteriores.
Mas isso é muito pouco. O MEC precisa
cuidar dos destinos da Educação do país, traçar programas de médio e longo
alcance, cuidar de alunos e professores em todos os níveis de ensino, e isso o
Enem não pode fazer. Não se discute a importância da avaliação no processo de
ensino-aprendizagem, ela é fundamental, especialmente quando utilizada a longo
prazo. As mudanças em Educação são lentíssimas, os efeitos percebidos ao longo
de gerações.
É muito mais fácil, e dá muito mais
ibope, realizar o Enem do que estabelecer princípios sérios que norteiem a Educação,
o que só pode ser executado por comissão de educadores de notório saber. Os
políticos, que façam política.
Uma boa analogia faz-se com as eleições
no Brasil. Num país do tamanho do nosso, os resultados das eleições, quaisquer
que sejam elas, são proclamados em minutos! A eficiência das tais urnas
eletrônicas é de causar inveja em todo o mundo! Em compensação, os nossos
candidatos...