sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Vaca amarela
Franz Marc (1880-1916) acreditava nos animais e no simbolismo das cores. O amarelo significava feminilidade. Poucos quadros já causaram tanto impacto no viajante quanto esta Vaca amarela, uma vaca feliz.
Guggenheim Museum, NY.
Foto: A.Vianna, 2012, NY.
mania
na parada de ônibus
enquanto a condução não chega
e quando ela chega
ônibus trem metrô
no bar piscina restaurante
antes da comida durante e depois
na loja farmácia supermercado
na fila do caixa ou em qualquer fila
na beira da calçada
ou à beira da morte
num degrau de qualquer escada
debaixo da escada ou em cima dela
enquanto o frentista enche o tanque
enquanto o sinal não abre
e até mesmo depois que ele abre
na sala quarto banheiro
no fundo do quintal ou no topo de um prédio
no cinema teatro hospital
em todo lugar
AGORA
tem alguém teclando um celular
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
terça-feira, 25 de setembro de 2012
O sono de Eros
Bronze grego ou romano (III AC - I DC), de uma beleza indescritível. A posição do menino, acomodado em um bloco de mármore, revela uma naturalidade impressionante! No Metropolitan, de NY.
Ref.: http://www.metmuseum.org/toah/works-of-art/43.11.4
Fotos: A.Vianna, NY, 2012.
La Frileuse
La Frileuse, 1787, escultura de Jean-Antoine Houdon, no Metropolitan de NY. Belíssimo bronze, para o gosto do viajante.
Ref.: Jean-Antoine Houdon (Versalhes, 20 de Março de 1741 — Paris, 15 de Julho de 1828) foi um escultor de estilo neoclássico francês. Houdon ficou famoso pelos bustos e estátuas que esculpiu de filósofos, inventores e figuras políticas do iluminismo. Houdon tem entre suas obras bustos e estátuas de Denis Diderot (1771), Benjamin Franklin (1778-79), Jean-Jacques Rousseau (1778), Voltaire (1781), Molière (1781), George Washington (1785-88),Thomas Jefferson (1789), Louis XVI (1790), Robert Fulton (1803-04) e Napoleão Bonaparte (1806).
Foto: A.Vianna, NY, 2012.
Guggenheim, vista interna.
Vista interna do museu.
Para informações sobre Frank Lloyd Wright: http://pt.wikipedia.org/wiki/Frank_Lloyd_Wright .
Foto: A.Vianna, NY, 2012.
Guggenheim de NY
Minha foto do Guggenheim de Nova Iorque, um dos prédios mais representativos da arquitetura do século XX. Arquiteto: Frank Lloyd Wright.
Foto: A.Vianna, NY, 2012.
Ref.: http://www.guggenheim.org/new-york/visit
quarta-feira, 12 de setembro de 2012
COMO É QUE EU DEVO FAZER UM MURO NO FUNDO DA MINHA CASA
A frase que empresta título a esta crônica é de Arthur Bispo do Rosário, e permanece inscrita na face
lateral de pequena caixa de madeira, de aproximadamente 30 cm de comprimento
por 3 ou 4 cm de largura, preenchida por cimento e encimada por uma fieira de
cacos de vidro, ao todo 26 pequenos cacos de vidro.
Trata-se de uma maquete,
portanto; da representação em escala reduzida de uma obra a ser construída. E
para que isso fique bem claro, o autor reafirma sua ideia utilizando-se de palavras.
Mais do que a orientação espacial para um determinado projeto (esta a
finalidade da maquete), a frase que ele faz questão de escrever soa como se
fosse uma ordem: “como é que eu devo
fazer”.
Mas apenas a ideia/ordem não é suficiente para aquele
que pensa, que imagina, que fantasia, enfim, que cria, pois ele precisa de uma
representação concreta, ele precisa de um objeto que dê forma a sua ideia, mesmo
que construído em escala reduzida, para exprimir aquilo que pensa. Ele deseja
ser compreendido.
De que casa estava a
falar Arthur Bispo do Rosário, quando, antes mesmo da própria casa, erigiu o
muro? Na época, ele residia na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, cujos
limites geográficos, segundo a biógrafa Luciana Hidalgo, “encampava uma área de
sete milhões de metros quadrados nos arredores do Maciço da Pedra Branca”.
Difícil imaginar que Bispo planejasse murar tão vastíssima área, a despeito de
seus delírios. Mais fácil supor que a ameaça, diante da qual ele precisava
levantar muro coberto com cacos de vidro, fosse de outra ordem, da ordem do
psíquico.
Ainda mais interessante
de se supor é que, a forma encontrada pelo autor para lidar com o que supomos
fosse uma ameaça, seja a manifestação artística, a construção do pequeno muro
de cacos de vidro, reforçado em seu alicerce pelas palavras “como é que eu devo fazer um muro no fundo
da minha casa”.
Hoje, quando se procura definir Arthur Bispo do
Rosário, tarefa sem dúvida difícil, diz-se que se trata de um artista, antes de
rotulá-lo como doente mental. A força da Arte, e consequentemente daquele que
cria, prepondera sobre qualquer outra circunstância. Questões acerca Do que é
Arte ?, Das funções da Arte, Das relações entre Arte e Loucura, são pertinentes
e inevitáveis ao nos depararmos com a produção de Arthur Bispo do Rosário.
No
entanto, nada disso importa àquele que se surpreende com uma pequena caixa de
madeira de 30 x 4 cm, preenchida por cimento e recoberta por cacos de vidro,
com a inscrição “como é que eu devo
fazer um muro no fundo da minha casa”, e que se emociona com esta indiscutível
pequena grande obra de arte.
E
o artista, então, logrou comunicar-se.
terça-feira, 11 de setembro de 2012
Ainda Bispo do Rosário
434 - COMO É QUE EU DEVO FAZER UM MURO NO FUNDO DA MINHA CASA.
A inscrição ocupa uma das faces da pequena caixa de madeira, cheia do cimento que fixa os cacos de vidro.
De toda a exposição (Bienal de arte de 2012), eis a obra que mais emocionou o viajante.
Foto: A.Vianna, 2012, S.Paulo.
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
Os impressionistas em S. Paulo
O belo prédio do CCBB, com a reprodução do quadro de Manet, O tocador de pífaro, na fachada, por ocasião da exposição dos Impressionistas, em setembro de 2012.
O viajante sente saudade do Seu Ofir, funcionário exemplar do Banco durante toda uma vida.
Foto: A.Vianna, 2012, S.Paulo.
Bispo: um grande artista!
O viajante vai a São Paulo, vê exposição do Caravaggio no MASP, vê os Impressionistas no CCBB, visita a Bienal de Arte, mas emociona-se mesmo com Arthur Bispo do Rosário!
Fotos: A.Vianna, 1012, S.Paulo.
Arthur Bispo do Rosário na Bienal
Obra de Arthur Bispo do Rosário na 30a Bienal de Arte de S. Paulo.
Foto: A.Vianna, 2012, S.Paulo.
Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba, Sergipe, 20 de fevereiro de 1909 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 5 de julho de 1989),[1] foi um artista plástico brasileiro.
Considerado louco por alguns e gênio por outros, a sua figura insere-se no debate sobre o pensamento eugênico, o preconceito e os limites entre a insanidade e a arte, no Brasil. A sua história liga-se também à da Colônia Juliano Moreira, instituição criada no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX, destinada a abrigar aqueles classificados como anormais ou indesejáveis (doentes psiquiátricos, alcóolatras e desviantes das mais diversas espécies).
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
As palavras e os silêncios
Do livro Paulo e Beatriz
Beatriz fechou o livro que acabara de
ler, colocou-o meio que solenemente sobre a mesa, e, agora sim, solenemente,
disparou, Perda de tempo!
Mais
não disse, nem Paulo perguntou, permanecendo no ar um quê de conversa por
terminar, de assunto suspenso, sobre algo que nenhum dos dois gostaria de falar
naquele momento. Depois de muitos anos de convivência, e não havia dúvida de
que se amavam, aprenderam que, em determinadas circunstâncias, o melhor a fazer
era permanecer em silêncio, pensar sobre o assunto, na espera de uma boa
oportunidade para conversar sobre ele. Não se trata de estratégia pensada
estudada racional, mas algo que aprenderam da experiência e do convívio, sem
que precisassem estabelecer pacto, acordo, combinação, regras. Aprenderam
simplesmente.
O livro
que permaneceu sobre a mesa pertence ao gênero policial, categoria a qual nem Paulo
nem Beatriz consideram-se aficionados. Ambos gostam do autor, é verdade, que
num certo momento da vida deixou de escrever sobre assuntos considerados
importantes sérios relevantes, e passou a escrever romances policiais. Aquele
era seu décimo livro sobre o mesmo detetive com nome de filósofo, morador de um
certo bairro de cidade grande, cheio de manias rabugices excentricidades
telhices, que primava por incorruptível honestidade. Era dado a leituras o tal
detetive, mote para que o autor desse vazão a sua própria erudição, despida de
qualquer academicismo, pois colocada na boca de um simples policial. Agora o
autor escrevia para o leitor comum e sentia-se muito à vontade com isso. Talvez
escrevesse para si próprio.
Não
posso deixar de ler esse livro, pensou Paulo. Ele havia lido todos os
anteriores, com maior ou menor entusiasmo, mas sempre com genuíno interesse,
principalmente pela forma com que o autor tratava a história: escrita correta,
elegante, bem cuidada, sem pedantismos, própria de quem se esmera no fazer. Paulo
podia avaliar o esforço do autor, acostumado a escrever sobre Filosofia, agora
às voltas com o romance policial, gênero para o qual os pedantes torcem o nariz.
Chegava a sentir uma certa pena do autor, Ele parece sofrer com a escrita, imaginava
Paulo. Portanto, não podia deixar de ler o livro, mas nada disse à Beatriz
naquele momento em que ela solenemente proferiu o impiedoso definitivo
veredicto, Perda de tempo!
Bem verdade que Paulo, naqueles dias,
estava ocupado nada mais nada menos com a leitura da Odisseia. E
particularmente ocupado com uma fala de Zeus, “pai dos homens e dos deuses”:
“Vede
bem como os mortais acusam os deuses! De nós (dizem) provêm as desgraças,
quando são eles, pela sua loucura, que sofrem mais do que deviam!”
Esse Homero era foda, exclamou Paulo,
dirigindo-se à Beatriz. Não sei quantos anos antes de Freud, sacou que os
homens servem-se dos deuses também para justificar as agruras desta vida, em
vez de assumir responsabilidade por seu próprio desvario e incompetência. Somos
nós que sofremos mais do que devemos ou precisamos!
Beatriz calou-se, pois agora era a vez
de Beatriz calar-se. Ouviu, escutou, reparou, pensou, mas nada respondeu.
Talvez ainda estivesse maldizendo, irritada, a perda de tempo que fora a
leitura do livro. Ou resolveu permanecer à espera da melhor oportunidade para
comentar as sábias palavras de Homero.
Passaram-se
alguns dias. Numa certa noite de setembro, ao chegar em casa cansada da
academia de ginástica, Beatriz reparou de pronto no livro nas mãos de Paulo, o
tal livro. E fulminou, Não tem nada melhor para ler?
Paulo não respondeu. Ele havia aberto
um Brunello de boa safra, deixando-o respirar por duas horas, aguardando o
espaguete com linguiça que ambos preparariam naquela esplêndida sexta-feira,
uma das especialidades de Beatriz. Ela cozinhava, ele fazia o trabalho sujo: picava
cebola, descascava alho, abria a lata de tomates pelados, esvaziava o lixo de
cozinha na lixeira, lavava a louça que ia sendo utilizada para que a cozinha
permanecesse limpa e arrumada, enfim, obedecia as ordens de Beatriz, Abra um
pacote de sal, Pegue dois tomates bem maduros, tire as sementes, pique em
cubinhos, Pegue duas pimentas frescas em nossa horta, faça isso faça aquilo, ao
que Paulo obedecia desvalido de prazer, pois não havia dúvida de que se amavam.
Fechou o livro, nada respondeu, agora era sua vez de nada responder, dirigiu-se
à cozinha. Provaram o Brunello, Maravilhoso!
Acordaram
tarde no sábado, e Beatriz ainda permaneceu lendo na cama por quase uma hora.
Quando se levantou, a mesa do café estava posta, com cada coisa em seu lugar,
diria Bandeira: frutas, pão de queijo que ela mesmo havia feito e congelado,
suco de laranja espremido na hora, queijo de Minas, presunto de Parma, Melhor
que café de hotel 5 estrelas, Paulo brincou. Mas antes mesmo de olhar para a
mesa, Beatriz observou que o marcador indicava que a leitura do livro passava
da metade, e não perdeu a oportunidade, Tem gente que gosta mesmo de jogar seu
tempo fora!
Paulo,
de muito bom humor, respondeu, É livro de férias, Bia! Viajamos daqui a três
dias, mas já me sinto em plenas férias, e então, nada melhor que um bom romance
policial. Lá vamos nós, a Ilíada pode esperar!
Beatriz
sentiu o golpe, foi obrigada a concordar, mas como não era mulher de dar o
braço a torcer, permaneceu em silêncio. Sentou-se, saboreou o café da manhã
cinco estrelas, leu o jornal que acabara de ser entregue, brincou com os
cachorros, regou as plantas da varanda, e, de chofre, perguntou, Paulo, o que
você me sugere para ler nas férias?
Agora
sim, Paulo pôde responder. Conversaram animadamente durante todo aquele fim de
semana sobre literatura, um de seus assuntos prediletos. E não apenas sobre os
tais livros de férias, também sobre o que significa perder tempo ou ganhar
tempo, sobre as palavras, e sobre o silêncio.
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